terça-feira, 5 de março de 2024

Como Recomendar a Quantidade de Calcário

A recomendação da necessidade de calagem para um solo depende de uma série de cálculos partindo de  uma análise do solo feita por um laboratório idôneo. Mas não basta somente o laboratório, é necessário que esta amostra de solo, que é uma média das diversas amostras colhidas na lavoura, seja representativa da real condição de fertilidade do solo. Isto é muito importante, porque uma amostra de solo coletada de maneira errada vai proporcionar um resultado errado e consequentemente uma recomendação errada de calagem e adubação, aquém das reais necessidades do solo, e que vai se traduzir numa produção menor.
É importante que o produtor tenha este cuidado quando da coleta de uma amostra de solo. Se não souber fazer, procure a assistência técnica própria ou de sua cidade. 
Vamos considerar os dados hipotéticos de uma análise do solo do quadro abaixo para realizarmos os cálculos:


pH = 4,3 Isto nos levar a pensar que estamos tratando com um solo ácido. Nestes solos, a presença de Al+++ acarreta baixas produções das culturas pela indisponibilidade do fósforo e outros macros e micronutrientes.
Areia = 750 g/kg que equivale a 75%  (g/kg /10 = %). 
Argila = 200 g/kg ou 20%  (g/dm³ /10 = %)
Silte = 50 g/kg = 5%
Estamos diante de um solo arenoso onde temos baixa Capacidade de Troca de Cations (CTC) e problemas na lixiviação de potássio (K) implicando em cuidados na aplicação de adubos contendo potássio, pois deveremos parcelar em duas ou mais aplicações este fertilizante.
MO = 10 g/dm³ = 1%  (g/dm³ /10 = %)
Os demais nutrientes estão em quantidades baixas, característica deste tipo de solo.
Para determinar a necessidade de calagem é necessário conhecer a soma de bases (SB), a CTC a pH 7.0 (T) e a percentagem de saturação por bases (V%).

CÁLCULO DA SOMA DE BASES (SB)
SB = K + Ca +Mg +Na  Substituindo os valores constantes no resultado da análise, temos:
SB = 0,6 + 6 + 2 + 0
SB = 8,6 mmolc/dm³ ou 0,86 cmolc/dm³
ATENÇÃO: cuide de que os valores dos nutrientes nos resultados da análise estão expressos em mmolc/dm³. Conforme a fórmula que você usa para cálculo da calagem, o resultado poderá supervalorizar a necessidade do corretivo.
Explico o porquê: a fórmula de cálculo mais utilizada é:

NC (t/ha) = (V2 - V1) x T / 100

onde NC = necessidade de calagem em t/ha;
V2 = percentagem de saturação por bases ideal para a cultura proporcionar ótimos rendimentos;
V1 = percentagem de saturação por bases original do solo;
T = capacidade total de cátions a pH 7.0 expressa em cmolc/dm³. Aqui é que está o problema, pois os resultados da análise estão em mmolc/dm³ e não em cmolc/dm³. Se você usá-los como tal na análise do solo, você vai ter um resultado errado, com recomendação de maior quantidade de calagem. Para resolver isto, basta dividir os dados em mmolc/dm³ por 10. E você terá os resultados em cmolc/dm³. Porque mmolc/dm³ /10 = cmolc/dm³ e consequentemente, cmolc/dm³ x 10 = mmolc/dm³.

CÁCULO DA CAPACIDADE DE TROCA DE CATIONS (T)
CTC a pH 7.0 ou T = SB + (H+Al)
T + 8,6 + 32 = 40,6  mmolc/dm³ = 4,06 cmolc/dm³

CÁLCULO DA PERCENTAGEM DE SATURAÇÃO POR BASES (V%)
V % = 100 x SB /T
V % = 100 x  0,86 /4,06     .'. V = 21,18 % que será o nosso V1  = (V% natural do solo)

CÁLCULO DA NECESSIDADE DE CALAGEM (NC t/ha)
NC t/ha = (V2-V1) x T / 100
Supondo que a cultura exige um V2 = 70% teremos
NC t/ha = (70-21,18) x 4,06 / 100
NC t/ha = (48,82) x 4,06 / 100
NC t/ha = 1,98 t/ha

ATENÇÃO :  Para comprovar o que escrevi sobre o uso correto da fórmula e os valores expressos em cmolc/dm³, faça os cálculos usando esta fórmula e os dados em mmolc/dm³. Você vai achar 19,8 t/ha.

CORREÇÃO DA NECESSIDADE DE CALAGEM (f)
A recomendação de calagem pelos órgãos oficiais é de utilizar um calcário com um PRNT = 100%. Geralmente, os calcários utilizados na lavoura não possuem este PRNT de 100%. É necessário, então, fazer a correção da quantidade. É simples. Basta dividir 100 pelo PRNT do calcário comprado. Por exemplo: o produtor comprou um calcário com PRNT = 83%.
Então, 100/83 = 1,2048
Este coeficiente, chamado fator de correção = f, deverá ser multiplicado pela quantidade de calcário encontrada no cálculo, ou seja, 1,98 t/ha x 1,2048 = 2,385 t/ha ou 2.385 kg/ha

3 comentários:

  1. Boa noite professor. Sei que esta pergunta que farei agora, não está totalmente haver com o presente assunto. Mas é a seguinte: Você aplicou 148 kg ha-1 de P2O5, em duas áreas, sendo uma área nova, de 1º ano (1,0 mg/dm3) e uma área com fertilidade construída, anos de PD, onde a fixação já “não existe” (10,0 mg/dm3). Na área de 1º ano a recuperação estimada é de 15% do aplicado (você só encontrará 15% do aplicado ao analisar o solo novamente, resto fixou), e na área antiga seria de 100%, ou seja, todo o P aplicado aparece na análise. Considerando DS= 1 g cm-3, para a camada de 0-20 cm, qual o aumento estimado de P (novo valor teórico), em cada área?
    Se puder responder, ficarei grata

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  2. Boa noite. Sei que não tem muito haver com a publicação, mas poderia me ajudar nessa questão?
    Chegue a vários valores, mas não sei se está certo. (Esse 1,0 mg dm3 e 10,0 mg dm3 são de P.)
    1. Você aplicou 148 kg ha-1 de P2O5, em duas áreas, sendo uma área nova, de 1º ano (1,0 mg/dm3) e uma área com fertilidade construída, anos de PD, onde a fixação já “não existe” (10,0 mg/dm3). Na área de 1º ano a recuperação estimada é de 15% do aplicado (você só encontrará 15% do aplicado ao analisar o solo novamente, resto fixou), e na área antiga seria de 100%, ou seja, todo o P aplicado aparece na análise. Considerando DS= 1 g cm-3, para a camada de 0-20 cm, qual o aumento estimado de P (novo valor teórico), em cada área?

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    Respostas
    1. Boa tarde. Você falou que aplicaram 148 kg/ha de P2O5 nas duas áreas. Tem uma série de fatores que deveriam ser levados em conta, como calagem das áreas, adubação de manutenção ou de correção, mesma adubação fosfatada para solos de diferentes níveis de P. São dados hipotéticos? Eu estou entendendo que você quer saber qual a quantidade de P que vai aparecer na análise com a mesma quantidade de adubo e níveis diferentes de P. Se o solo foi cultivado vai haver absorção de P pela planta. Não existe uma fórmula matemática para determinar a quantidade de fósforo que vai aparecer na análise do solo. O fósforo, mesmo em solos corrigidos sofre fixação tanto pela acidez dos adubos nitrogenados, pela imobilização pelos micro-organismos, perdas pela erosão, etc. Nos solos não calcareados esta fixação é maior, por isto que se diz que apenas 15 a 25% do fósforo aplicado é disponível para as plantas. N análise do solo, o nível de P no solo é considerado pela sua disponibilidade.
      Foi o que entendi da sua pergunta. Caso não seja isto, favor retornar.

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