Os microorganismos estão presentes na matéria orgânica do solo, a qual representa um dos componentes da fertilidade do solo. Os microorganismos aparecem desde a formação do solo, na decomposição dos resíduos orgânicos, na formação da matéria orgânica, na reciclagem dos nutrientes. Os microorganismos têm uma ação solubilizadora do fósforo e produção de fosfatases.
No Brasil, em geral, os solos apresentam baixo teor de fósforo total e muito baixo teor de fósforo disponível para as plantas, devido aos problemas de fixação que ocorrem com solos que apresentam ferro e alumínio, e de características ácidas. Já vimos que do fósforo adicionado ao solo, através de fertilizantes químicos, até 25% é aproveitado pelas plantas. O fósforo (P) é adsorvido aos coloides do solo ou transformado em compostos de ferro e alumínio pouco solúveis para as plantas. Por isto é que as formulações de fertilizantes
são representadas por altos teores de P; com isto, maiores quantidades de P são adicionadas ao solo para que a planta aproveite 25%, o que se traduz numa baixa eficiência dos fertilizantes fosfatados. Neste caso, os microorganismos do solo têm um papel preponderante na mineralização e solubilização do fósforo. Além disto, o consumo de fertilizantes fosfatados aumenta no decorrer dos anos. As rochas fosfatadas são a matéria-prima principal para a obtenção dos fertilizantes fosfatados. A cada ano, mais rocha fosfatada é extraída, moída, no mundo, para atender à demanda de fabricação dos fosfatados. E são recursos não renováveis. As reservas fosfáticas vão diminuindo ano após ano. Portanto, há busca de processos microbiológicas que tornem possível a disponibilidade do fósforo.
Na solução do solo, o P encontra-se nas formas de H3PO4, H2PO4, HPO4 e PO4, dependendo do pH do solo. Nos solos de Cerrado, a concentração de P na solução do solo é menor que 0,1 mg/dm³, o que é muito baixo. A soja requer teores de P igual a 0,2 mg/dm³.Já o P presente na fração sólida do solo divide-se em P-lábil (trocável) e P-não lábil (não trocável).
Os microorganismos influem na habilidade das plantas em absorver P do solo, ou seja: aumentando a área de contato das raízes pelo desenvolvimento do sistema radicular (micorrizas); promovendo o crescimento das raízes laterais e pêlos radiculares; transferência de íon fosfato para a solução do solo; aumentando formas orgânicas de P; estimulando processos metabólicos que são importantes na solubilização e mineralização do P. Nos processos metabólicos temos a excreção de íons H, liberação de ácidos orgânicos, produção de sideróforos, produção de enzimas fosfatases.
Os microorganismos responsáveis pela solubilização do P excretam ácidos orgânicos que dissolvem o material fosfático ou quelando cátions que estejam acompanhados do ânion fosfato. Os ácidos orgânicos são, entre eles, o láctico, glicólico, cítrico, málico, oxálico, succínico e tartárico.
As formas orgânicas de P são mineralizadas pelos microorganismos produtores das enzimas fosfatases e fitases. Os fungos micorrizas também são importantes no processo de suprir fósforo para as plantas, pois aumentam a área de absorção das raízes e a velocidade de absorção do P; além disto, têm a capacidade de absorver P de fontes que não estão disponíveis para as plantas. Por outro lado, as plantas são capazes de influir na disponibilidade de P: mudança no pH da rizosfera; liberação de ácidos orgânicos, fosfatases; ação das raízes proteoides, que são grupo de raízes muito finas e de grande ramificação.
Muitos produtos contendo microorganismos já foram testados pelo mundo. Na Rússia, na década de 50, foi testado o "Fosfobacteria", tendo na composição a bactéria Bacillus megatherium var. phosphaticum visando a mineralização do fósforo orgânico. Mas os resultados colocaram muitas dúvidas sobre a condução correta dos experimentos. Uma outra mistura a "Biosuper" tendo na sua composição bactérias do gênero Thiobacillus: a idéia era a oxidação do enxofre (S) pelas bactérias Thiobacillus levando à formação de ácido sulfúrico que provocaria um aumento na solubilidade dos fosfatos de rocha. Mas seu uso não foi considerado satisfatório na cultura do trigo, embora com resultados melhores nas pastagens.
No Brasil, a utilização de uma mistura de fosfato natural de Gafsa e enxofre na proporção de 5 a 20% com a utilização de uma bactéria do gênero Thiobacillus chamada Acidithiobacillus, nos solos alcalinos da região do Nordeste. O tratamento contendo 20% de S aumentou a concentração de P-Mehlich no solo.
Ainda, no Brasil, a solubilização dos fosfatos pelo fungo Aspergillus niger, usando vinhaça como substrato, foi avaliada em laboratório, por Nahas et al. (1980) que observaram uma produção de 1,2 g/L de fosfato solúvel para cada 5 g/L de rocha fosfatada natural adicionada, no caso uma fluorapatita.
Nahas,Ely estudando os microorganismos do solo produtores de fosfatases em diferentes sistemas agrícolas concluiu que somente as bactérias e fungos produtoras de fosfatase alcalina foram influenciadas pela adubação fosfatada; apenas os números de bactérias produtoras de fosfatase ácida aumentaram com a calagem; menos de 2% dos microorganismos produtores de fosfatases apresentaram alta atividade enzimática.
Araújo, Fabio Fernando & Santos Jr, Juarez Dalmiro realizaram um experimento em casa de vegetação, com cultivo de milho, para avaliar o comportamento do Acithiobacillus inoculado, em mistura com fosfato natural de Gafsa e enxofre. Este biofertilizante foi utilizado como fonte de adubação fosfatada em um argissolo vermelho amarelo degradado. As plantas foram adubadas com quatro dosagens do biofertilizante. O aumento na concentração de fósforo solúvel ocorreu no segundo cultivo. Não houve acidificação do solo, mas aumentou a concentração de enxofre (S) no solo. O biofertilizante aplicado na dosagem de 160 kg P/ha foi o que apresentou melhor desempenho no fornecimento de fósforo e no desenvolvimento da planta.
Os microorganismos do gênero Pseudomonas, Bacillus e Rhizobium são as que apresentaram maior produção de fósforo. As bactérias do gênero Acidithiobacillus têm sido estudadas como eficientes solubilizadoras de fosfatos naturais, devido à produção de ácido sulfúrico, a partir do S elementar.
"Aumentar a disponibilidade de P para as plantas, pelo uso de fontes fosfatadas e inoculação com microorganismos, é muito complexo: vai depender de muitas pesquisas. O crucial é introduzir e estabelecer estes microorganismos na rizosfera da planta, quando se têm diferentes situações climáticas e diferentes tipos de solos brasileiros".
Caro Colega
ResponderExcluirHá tempos,Um Fio de Água teve luz verde. Pode ser que tenham a mesma sorte
ESFORÇOS BALDADOS
Estava a ouvir os carros a passar na rua com o chão molhado de chuva a acair. Fora assim que há muitos anos ele acordara de madrugada,algures numa pensão alentejana. Parecia ter-se gorado o trabalho da noite a preparar as coisas para uma sementeira de trevo da Pérsia. O tempo acabou por se recompor e lá foi à procura de auxílio. Apareceu na forma de um velhote muito magro,com barba de dias. Era dono de uma parelha de muares tão velhas como ele. Mas os três sabiam do seu ofício,que a aprendizagem começara cedo e em excelente escola. A água deixara de vir do céu,mas havia mais prometida. As mulazinhas não podiam mandriar,bem como o seu condutor. A obra ficou perfeita. Todos não cabiam de contentes,sobretudo o trio assalariado. Ainda se haviam lembrado deles,graças a Deus. Tinham estado um largo tempo parados,mas não há mal que sempre dure. O par teve naquele dia rancho melhorado e o velhote,para além do que fora estabelecido,banqueteou-se com ceia lauta no café do lugar. A previsão confirmou-se. A chuva voltou,de mãos largas,fazendo das suas. As sementes boiavam. Tinham sido esforços baldados. Feitas as contas,restara a alegria dada ao trio assalariado. Não se perdera tudo.
Muito boa saúde,Caro Colega.
Caro Colega
ResponderExcluirA aproveitar a maré,deixo-lhe mais uma página agrária,e não só.
TAL COMO NA VIDA
A forragem estava boa para corte. Vieram três homens de uma aldeia próxima. A tarde ia a meio e o calor apertara. Protegida a nuca com lenços,os jornaleiros ceifavam o trevo,bem desenvolvido e basto. Algumas vacas já estariam com água na boca,antegozando o festim. Tinham de ter paciência,que, antes disso, ia-se assistir a um espectáculo digno de registo. É que um dos ceifeiros encontrou um ninho com vários ovos. Mas que coisa boa,manifestaram-se eles exuberantemente. Vêm mesmo a jeito,pois já estávamos a precisar. Sem cerimónias,após justa divisão,trincaram-nos e enguliram-nos,inteirinhos. Mas estavam com sorte,pois,pouco tempo volvido,apareceu outro ninho. Desta vez,rejeitaram a casca,depois de os meterem na boca. E a sorte continuou. Já quase saciados,com vagares,partiram os ovos. Mas a sorte não findara. Esse ninho foi poupado. Afinal,como na vida. Uns são sacrificados,outros conseguem escapar-se, vá-se lá saber porquê. E as pobres mães? Tinham sido iludidas. A elevada densidade do trevo não lhes salvara os filhotes a haver.
Muito boa noite,Caro Colega.
Caro Colega
ResponderExcluirEm primeiro lugar,estou-lhe muito grato por se dispor
a aceitar,até quando entender,páginas de um caderno já um tanto amarelas.Depois,umas palavras prévias em relação às citações que se seguem. Trata-se de escritos muito antigos,que reflectem as preocupações
desse tempo,num enquadramento geral. Mas dado o nível dos autores,essas preocupações estavam bem fundamentadas. O tempo de hoje é muito outro,mas o condicionalismo permanece,em
que se cruzam os factores de sempre,físicos,químicos,
biológicos,em contínua interligação activa,pelo que
preocupações persistem. Mas o colega dirá se vale a pena revelar as do passado remoto.
Schofield,R.K.(1955-Can a precise meaning be given to available soil phosphorus? Soils Fertil.,Harpenden 18:373-375),apreciando o sucesso parcial que os químicos agrícolas têm tido na avaliação do chamado fósforo "assimilável",sugeriu uma nova hipótese de trabalho baseada na determinação dum potencial químico apropriado. A aplicação desta medida apresenta,todavia,certas dificuldades;porém,segundo Schofield,"a despeito destas dificuldades.,a hipótese sugerida merece ser explorada,pois mostra-se a melhor esperança imediata de dar alguma ordem ao presente caos".
Nye,P.H.(1963-Soi analysis and assessment of fertility in tropical soils. J.Sci.Food Agric.14:277-280),sobre aspecto semelhante,pronunciou-se do seguinte modo:"A não ser que um processo...capaz de universal aplicação seja adoptado,o futuro da análise do solo consistirá numa série interminável de ensaios de fertilização realizados com o fim de obter correlações com um número sempre crescente de soluções extractivas".
Bradfield,R.(1961-A quarter century in soil fertility
research and a glimpse into the future.Proc. Soil Sci.Soc.Am. 25:439-442),por ocasião do 25º aniversário da Sociedade Americana da Ciência do Solo:"Parece-me que não podemos deixar de concluir que a razão de continuarmos a investigar e a reinvestigar certos aspectos da fertilidade do solo está em que ainda não sabemos predizer com confiança
o que acontecerá em cada caso particular,pois há muitos parãmetros envolvidos que não somos ainda capazes de identificar,medir ou interpretar".
E pronto,Caro Colega,basta de citações,ficando de reserva umas tantas, que não acrescentariam muito mais.
Muito boa saúde,e,mais uma vez,os meus agradecimentos.