quinta-feira, 12 de julho de 2012

Relação Ca/Mg na Análise do Solo

Interpretação da Análise do Solo (8)



Muitos autores determinam que a relação Ca/Mg ideal deve estar entre 3:1 e 4:1 para um bom desenvolvimento das plantas e atingir alta produtividade. Algumas plantas toleram relação Ca/Mg mais alta.  Nas três amostras que estamos estudando na série "Interpretação da Análise do Solo" apresentam valores de Ca/Mg muito baixo, a nível do pH natural do solo. Para otimizar esta relação, lançamos mão da calagem, pois esta prática adiciona cálcio e
magnésio ao solo. Se o solo está deficiente em cálcio e relativamente bem em magnésio, usamos um calcário calcítico; se o solo está pobre em cálcio e magnésio e com uma relação baixa, usamos o calcário dolomítico. Muitas vezes, para manter ou aumentar a relação Ca/Mg temos que usar uma mistura de calcário calcítico e dolomítico e, até mesmo, o gesso agrícola que possui 24 a 28% de CaO.
Entretanto, está havendo um desequilíbrio na relação Ca/Mg, pois dados de análise de amostras de solo têm apresentado valores na relação de 1:1. A justificativa é a utilização demasiada de calcário calcítico na neutralização da acidez do solo, principalmente em regiões próximas de jazidas deste tipo de calcário. Entretanto, há quem diga que os calcários tem diferentes teores de Ca e Mg apresentando a mesma eficiência na correção da acidez e que a relação Ca:Mg não representa problema à produção das culturas.
Rosolem et al. (1984) estudando o efeito das relações Ca/Mg, Ca/K e Mg/K do solo na produção de sorgo sacarino observaram que quando a relação Ca/K foi menor que 7,4 não houve resposta ao sorgo sacarino na produção de colmos. Quando a relação  Mg/K foi menor que 0,6 também não houve resposta, em função das menores absorções de Ca e Mg. A relação Ca/Mg não mostrou efeito sobre a produção de sorgo sacarino com as suas interações com Ca e Mg.
Nos artigos "Necessidade de Calagem pela Análise do Solo" e "Percentagem de Saturação dos Cátions Básicos na Análise do Solo", calculamos a necessidade de calagem e o quanto de Ca e Mg foi adicionado pelo calcário, os percentuais de saturação de Ca e Mg e quanto de cloreto de potássio para elevar a concentração de K em 5% da CTC a pH7.0. No Quadro 2. apresentamos um resumo destes dois artigos:


A falta de resposta da soja à aplicação de maiores quantidades de potássio pode estar relacionado com as suas interações com Ca e Mg, ou seja, com a calagem (Oliveira et al. 2001). Quando a relação (Ca+Mg)/K no solo foi superior a 36 e na foliar de 3,5 aconteceu as menores produções de massa. Agora quando a relação (Ca+Mg)/K foi de 20 a 30, foram obtidas as maiores produções. A relação (Ca+Mg)/K é um índice importante para avaliar a disponibilidade de K para a soja (Oliveira et al. 2001).
Nas nossas amostras esta relação (Ca + Mg) / K foi a seguinte:
amostra 1: (7,27 + 2,20)/0,69 = 13,7
amostra 2: (2,58+1,04)/0,26 = 14
amostra 3: (4,13 + 1,62) / 0,42 = 13
Bear & Toth (1948) citado por Oliveira et al. propõem um conceito de que a CTC do solo deve ser preenchida com 65% de Ca, 10% de Mg e 5% de K. Nestes parâmetros, as relações seriam: Ca/Mg = 6,5:1, Ca/K = 13:1 e Mg/K = 2:1. Mas Oliveira et al. dizem que em vários trabalhos, que usaram este conceito, os resultados foram contraditórios.
Muitos pesquisadores não encontraram resultados significativos com a relação Ca/Mg na produção das culturas.
Por outro lado, Oliveira et al (1998) verificaram que o aumento da saturação de Ca na CTC trouxe resultados significativos para a produção de matéria seca de mudas de cafeeiro.
Silva (1980) obteve melhores rendimentos de matéria seca do milho com relação Ca:Mg = 3:1, quando a CTC do solo foi saturada com 60 a 70% de Ca.
Oliveira & Parra (2003) não encontraram uma relação Ca:Mg para o fejoeiro devido a falta de resposta da cultura às várias relações, tanto na produção de matéria seca quanto na produção de grãos.
Fageria (1999) concluiu que o calcário aumenta os valores de pH em água, os teores de Ca, Mg, da saturação por Ca e Mg, relação Ca/K e Ca/Mg até a profundidade de 40 cm.
Portanto, parece que as saturações de Ca, de Mg e de K são mais importantes do que conhecer as relações entre os cátions trocáveis. O equilíbrio, a concentração ideal de cátions na CTC seria o caminho para estabelecer expectativas de alto rendimento das culturas.
Segundo o Boletim Técnico Nº 100 do IAC, trabalhos de pesquisa têm demonstrado que a relação Ca/Mg não é essencial na calagem, desde que os teores de cálcio e magnésio estejam suficientes no solo. Foram analisadas relações de 0,5:1 até 30:1, as quais demonstraram isto, em solos com teores adequados de Ca e Mg.

LEIA: Artigos da Série Interpretação da Análise de Solo
O pH na análise do solo - Interpretação da análise do solo (1)
Argila e matéria orgânica na análise do solo - Interpretação da análise do solo (2)
Cátions trocáveis e as CTC's na análise do solo - Interpretaçao da análise do solo (3)
Cátions ácidos e saturação por alumínio na análise do solo - Interpretação da análise do solo (4)
Percentagem de saturação por bases (V%) na análise do solo - Interpretação da análise do solo (5)
Necessidade de calagem pela análise do solo - Interpretação da análise do solo (6)
Percentagem de saturação dos cátions básicos na análise do solo - Interpretação da análise do solo (7)

REFERÊNCIAS

FAGERIA, N. K. Efeito da calagem na produção de arroz, feijão, milho e soja em solo de cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília. v. 36, n. 11, p.1419-1424, nov. 2001

OLIVEIRA, F.A.;CARMELLO, Q. A. C.; MASCARENHAS, H.A. A. Disponibilidade de potássio e suas relações com cálcio e magnésio em soja cultivada em casa-de-vegetação. FAPESP. Science Agricola. V.58. N.2. A. 2001.

OLIVEIRA, E.L.; PARRA, M.S. Resposta do feijoeiro à relações variáveis entre cálcio e magnésio na capacidade de troca de cátions de latossolos. IN: Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Londrina, Paraná. 2001. R. Bras. Ci. Solo, 27:859-866, 2003.

ROSOLEM, C.A.; MACHADO, J.R.; BRINHOLI, O. Efeito das relações Ca/Mg, Ca/K e Mg/K do solo na producao de sorgo sacarino. Pesquisa Agropecuaria Brasileira, Brasilia, v.19, n.12, p. 1443-1448. dez. 1984.

8 comentários:

  1. Gastão. Bom texto, contudo existe um pequeno erro de grafia do nome do Professor Ciro Antonio ROSOLEM, tanto no texto, como na referência.

    parabéns pelo blog e não desista desta luta.

    abraço

    Gustavo Spadotti Amaral Castro

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    1. Obrigado, Gustavo. Já foi feita a correção no texto. Um abraço

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  2. Ola professor. Pergunta:

    Eu preciso aplicar 3,2 t/ha de calcario, na camada 0-20 cm. Então, sabendo que o calcário tem 15% de MgO, como determino a sua aplicação, para que o teor MgO atinja no minimo de 9 mmolc dm3? Também gostaria de saber se em 10 mmol possui um valor tabelado?

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    1. Leia:
      http://agronomiacomgismonti.blogspot.com.br/2009/11/quanto-se-adiciona-de-ca-e-mg-pela.html

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  3. Boa tarde professor. tenho uma dúvida:

    Tenho uma análise de solo onde não tenho presença de alumínio, ph em água de 6,2 e saturação de bases de 73,4%, porém minha relação de ca/mg está em 6,8. A cultura vai ser pastagem intensiva. e fósforo 2,2mg/dm³. Na interpretação da análise vamos ter que corrigir o fósforo, porém queria saber que fonte posso usar para harmonizar a relação de ca:mg e quanto preciso usar para isso?

    Obrigado, tenha um bom dia.

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    1. Você pode usar os fosfatados solúveis ou misturar com um fosfato natural reativo na proporção de 70 e 30% respectivamente. A quantidade de fósforo vai depender do que é recomendado para a sua região tendo em vista a faixa de 2,2 mg/dm³ de P. Quanto a relação Ca/Mg leia
      http://agronomiacomgismonti.blogspot.com/2010/03/como-aumentar-ou-manter-pela-calagem.html

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  4. Bom dia professor.

    Alguns professores que conheço utilizavam uma regra na escolha do calcário após a determinação da quantidade necessária. A regra era assim: se a relação de Ca:Mg for menor que 3:1 usa-se o calcário calcítico e se a relação de Ca:Mg for maior que 3:1 usa-se calcário dolomítico.

    Mas conversando com outros professores de outras instituições, essa regra fácil de escolha parou de ser utilizada desde 2006, pois muitos trabalhos demonstraram que a relação Ca:Mg não influenciaram a produção. E esses mesmos professores mencionaram que esses termos de calcário calcítico, magnesiano e dolomítico nem são mais utilizados na escolha do calcário e sim o valor do PRNT, não importando a concentração de MgO e de CaO.

    A minha dúvida é será que essas informações são corretas. E caso eu aplique um calcário qualquer que tem PRNT de 95%, sem me importar com os valores de CaO e MgO e causar alteração nos valores de Ca e Mg do solo, promovendo que um fique com valores altos que prejudiquem a absorção do outro.

    Qual seria um método correto de ver se meus valores de cálcio e magnésio estão baixos ou altos no solo ? E pela sua grande experiência qual seria uma forma mais coerente de escolher o calcário ?

    Desde já agradeço.

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    1. Tem técnicos que dizem que a relação Ca/Mg não influi nos rendimentos das plantas. É bom saber que o excesso de um inibe a absorção do outro. Se o solo é bem provido de magnésio, deve-se preferir um calcário calcítico. Se é deficiente em magnésio, um calcário dolomítico. A relação se obtém pelo resultado de cada nutriente na análise do solo.

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