terça-feira, 22 de junho de 2010

A Lei dos Retornos Decrescentes na Agricultura

Em virtude dos solos brasileiros, em geral, apresentarem características de acidez acentuada e de baixa fertilidade, com pobreza de nutrientes indispensáveis às plantas, são necessárias práticas de calagem e fertilização, recomendadas pelos técnicos, a fim de que o produtor rural consiga obter altas produtividades. Sem isto, as lavouras estão fadadas à baixas produtividades.
Os órgãos de pesquisa brasileira vem trabalhando há anos no aprimoramento das tabelas para que elas representem o ideal nas recomendações de nutrientes para as diversas culturas, visando o aumento da produtividade com economicidade. Em suma, que os nutrientes aplicados através da fertilização, aliado a
outras práticas agrícolas, tragam LUCRO para o produtor. Como existem vários tipos de solos, diferenças de clima, diferentes culturas, cada Estado brasileiro, através de seus pesquisadores, lançam tabelas de recomendação de nutrientes baseadas na análise do solo, que determinam a quantidade de fertilizante que dará maior lucro.
É comum se ouvir falar de produtores que, a cada ano, utilizam mais adubo na sua lavoura. Nas primeiras vezes que adubaram a terra obtiveram aumentos de produtividade. No ano seguinte, motivados pelo bom resultado anterior, aumentam mais a dose de fertilizante, e a produtividade aumenta mais um pouco. No terceiro ano aumentam mais ainda a dose, mas a produtividade não aumenta tanto quanto da primeira vez. Em resumo, os aumentos nas quantidades de fertilizantes, numa determinada cultura, não proporcionam aumentos proporcionais na produção. Isto se deve a "Lei dos Retornos Decrescentes". Ou seja, os aumentos de produção obtidos pela aplicação de maiores doses de fertilizantes dão origem a resultados econômicos cada vez menores, até um ponto em que o valor de produção é igual ou menor que o custo de produção.
A obtenção do lucro máximo vai depender dos cuidados que o produtor dispensar às lavouras. Uma boa administração da propriedade acarretará maiores lucros do que uma má administração.
A curva de resposta da produção não é a mesma para todas as culturas. Ela varia conforme o solo, quantidades de nutrientes, clima, densidade de plantio, combate às pragas e às doenças, planta, e outras práticas culturais importantes. Ela será tanto melhor quanto maior for a capacidade de administração do produtor.
A prática comum do produtor de aumentar a aplicação de fertilizantes a cada safra, no afã de produzir mais, deve ser levada em conta com acompanhamento dos custos de produção, e no valor recebido pela venda dos produtos. Pela Lei dos Retornos Decrescentes as produções não aumentam proporcionalmente à quantidade de adubo utilizado: a cada aumento da quantidade, o LUCRO vai diminuindo, podendo chegar ao prejuízo. O bom administrador leva em conta os custos fixos e variáveis da produção - DESPESAS - para confrontar com a venda da safra - RECEITAS. A diferença entre a receita e a despesa é o resultado da produção: se positivo, lucro; se negativo, prejuízo.
Os fertilizantes são importantes na geração do lucro. A "dose ótima" de fertilizante diminui o custo por unidade produzida, e, por consequência, aumenta o lucro da lavoura. É a "curva de produção" - aumento das doses de adubo até obter aquela que dê o maior lucro por hectare. O fertilizante, o calcário, os defensivos, são custos variáveis, seu custo vai depender da quantidade aplicada. Os custos fixos mais variáveis formam o "custo total de produção".
Vamos tentar mostrar, na prática, como funciona a Lei dos Retornos Decrescentes. Para isto, consideremos uma lavoura de soja em que o produtor, a cada cultivo, aumenta a quantidade de fertilizantes motivado pelo acréscimo de produção que vem obtendo a cada ano. Claro que os dados da tabela 1 são hipotéticos, mas que o prezado leitor, na prática, poderá constatar a mesma evolução.


Na tabela 1, a aplicação de fertilizantes aumentou a produção. A planta respondeu à adubação, à aplicação de nutrientes. Comparando a dose zero com a dose de 200 kg/ha houve um aumento significativo de produção. Na tabela 1, o acréscimo de produção, em relação quando não foi adubada a lavoura, foi aumentando após cada cultivo de soja. Verifiquem que as produções não aumentaram de forma proporcional. Pequenos aumentos a cada ano - chegando a diminuir quando as dosagens foram maiores, de 400 a 450 kg/ha.


A tabela 2 nos dá uma ideia do lucro obtido a cada safra. O lucro máximo foi obtido com a aplicação de 350 kg/ha de fertilizante. Após esta faixa, o lucro começa a decrescer por causa da diminuição da produtividade da soja. Assim, as quantidades de fertilizantes aplicadas para obter um máximo de produção, poucas vezes produzem o maior lucro ao mesmo tempo. À medida que o fertilizante aumenta a produtividade por hectare, há uma redução do custo de produção até aquele que dê o maior lucro por área. O custo do fertilizante é uma das variáveis de custo de produção. Seu custo vai depender da quantidade aplicada. Estes custos variáveis mais os custos fixos formam o custo total de produção, dependendo da quantidade de adubo que foi usada. As aplicações de 400 e 450 kg/ha não produziram grandes aumentos, e provocaram decréscimos na produtividade, talvez porque o solo já estava saturado de nutrientes. Não houve resposta à adição de maiores quantidades de elementos essenciais às plantas.


Aqui é importante frisar a recomendação da análise do solo, para conhecer o nível de fertilidade do solo, e a análise foliar para saber o estado nutricional da planta. É preciso adotar estas práticas e não aumentar, "ao bel prazer", as quantidades de fertilizantes buscando aumentos maiores de produtividade. O excesso de nutrientes no solo pode ocasionar problemas na sua absorção e na de outros elementos, em lugar de serem benéficos para o desenvolvimento e produção dos vegetais. O excesso de fósforo (P) pode induzir a deficiência de zinco (Zn). O potássio (K) em altas doses diminui a absorção de boro (B).
Qual o papel do técnico neste contexto? O técnico consultor, orientador, deve atuar como um verdadeiro extensionista rural. A extensão Rural se baseia no princípio de provocar mudanças de hábitos, atitudes através do "aprender, fazendo". É necessário, não somente recomendar a fórmula e quantidade de fertilizantes, mas fazer pequenas áreas demonstrativas na propriedade assistida, a fim de mostrar o comportamento das plantas em relação ao aumento da produtividade e ao lucro obtido. Após, com os resultados, promover reuniões com os vizinhos, na área demonstrativa, e divulgá-los. É o aprender, fazendo. Principalmente com aqueles produtores rurais que aumentam a dose, a cada ano, por sua vontade própria, no intuito de produzir mais, sem se importar com o resultado econômico.
Por outro lado, o bom administrador de sua propriedade lança mão dos conceitos de despesas e receitas, além de pesquisar os melhores resultados nas lavouras, demarcando as áreas e assinalando, com placas, as práticas adotadas.
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