terça-feira, 9 de outubro de 2012

Perdas de Nutrientes pelas Queimadas

Foto:  rondoniaovivo.com

As queimadas trazem sérios prejuízos ao solo e à agricultura. Embora exigida liberação para execução das queimadas controladas, isto significa que elas são permitidas. As queimadas causam danos à fertilidade do solo - empobrecendo-o em nutrientes, ao meio ambiente, à saúde pública, aos animais e à vegetação. Temos duas Leis de Crimes Ambientais: uma relacionada aos crimes ambientais contra a flora e a outra contra a fauna. Permitem-se e autorizam-se queimadas contra duas leis que protegem a fauna
e a flora. Afora todos os problemas que as queimadas causam, a perda de nutrientes do solo é elevada, sem falar na emissão de gases de efeito estufa. A Tabela 1, usando os dados de Oliveira et al. (2005), dá informação sobre a temperatura do fogo e as perdas de NPK mais micronutrientes, em cinco sistemas: floresta, pasto com forrageira Jaraguá, campo, palhada de milho e cerradão.


Thung e Oliveira (1998 - citados por Oliveira et al.) dizem que o feijão precisa de 100 kg/ha de N. Então, estas perdas de N, pela queimada, significam de 6 a 15 cultivos de feijão perdidos. A uréia, que possui 45% de N, significaria perdas de 1,3 a 3,3 toneladas desse nitrogenado. No caso do sulfato de amônio (20% de N) significariam perdas de 3 a 7,5 t/ha do produto.
Existem leguminosas que fixam o N do ar e o incorporam no solo, numa quantidade de 140 kg/ha. Então, seriam precisos de 4 a 11 cultivos destas leguminosas, conforme o ambiente.
As perdas com fósforo são maiores, pois as queimadas, conforme o ambiente, podem ocasionar perdas de 4 a 11 kg/ha P. Se o solo, em média, contém 2 mg/dm³ P ou 4 kg/ha (mg/dm³ x 2 = kg/ha), numa única queimada seria eliminado todo o fósforo disponível existente no solo. Numa palhada de milho, as perdas podem atingir 4 kg/ha de P. Nessa palhada, as perdas de potássio chegam a 42 kg/ha e 52% de nutrientes.
Com as altas temperaturas das queimadas, há volatilização de nutrientes. A cinza formada da queima atinge até 400 kg/ha e há um aumento na concentração de K, Ca e Mg na camada superficial do solo, mas que se perde com o passar do tempo, levada pelos ventos e pelas chuvas.
Nas queimadas, a maior perda é com o nitrogênio que vai para a atmosfera em forma de fumaça. Outros nutrientes são liberados juntos.
Pivello et al. (1992  citados pela Embrapa) avaliaram a quantidade de nutrientes, ou seja, N, P, K, Ca, Mg e S, que foram transferidos para a atmosfera durante seis queimadas experimentais em campo-cerrado de Emas, em Pirassununga, SP. Comparam a quantidade de nutrientes na vegetação herbáceo-arbustiva e na cinza resultante da queimada. As médias de perdas de nutrientes foram as seguintes: 20,6 kg N, 1,6 kg P, 7,1 kg K, 12,1 kg Ca, 3,0 kg Mg e 59% de S.
Verifica-se, portanto, que as perdas de N, P, e K são semelhantes às perdas verificadas por Oliveira et al (2005), ou seja, maior quantidade de N, depois K e finalmente o P.
A queimada traz diversas desvantagens quando utilizada. A cobertura do solo é  responsável para evitar as perdas de nutrientes e matéria orgânica pela ação das águas das chuvas e pela erosão eólica. Além disto, a cobertura vegetal é responsável pelo aumento do teor de matéria orgânica do solo, formada pela decomposição de galhos e folhas que caem no solo.
Todos conhecem o papel primordial da matéria orgânica do solo na melhoria da fertilidade do solo e no aumento da produtividade das culturas. É fonte de nitrogênio (N) para o solo. nas recomendações de adubação. Quanto maior o teor de matéria orgânica do solo menor serão as quantidades de adubos nitrogenados recomendados. A matéria orgânica melhora a estrutura física do solo agregando as partículas e diminuindo os problemas de compactação nos solos argilosos ou a desagregação nos solos arenosos. A matéria orgânica do solo funciona como um verdadeiro reservatório de nutrientes e água, liberando-os para a planta. Com a queimada há uma destruição da matéria orgânica e, como consequência, uma pobreza de nutrientes.
Quem perde com isto é o produtor que deverá utilizar quantidades maiores de fertilizantes para compensar, e isto se traduz em aumento do custo da lavoura. Outro prejuízo das queimadas é a emissão de gases de efeito estufa como o CO2, NO2 e enxofre (S), causando um desequilíbrio no meio ambiente. Alguns apontam que as queimadas são responsáveis por 70% das emissões de CO2 para o ar.
Sampaio et al. (2003) estudaram o "balanço de nutrientes e da fitomassa em um solo argissolo amarelo, sob floresta tropical, após a queima e cultivo com arroz".  Após a derrubada e queima da mata, instalaram um experimento para comparar áreas queimadas sem cultivo e áreas queimadas com arroz cultivado. Como referência foi utilizada uma área de mata. A realização da queimada consumiu 36,3% da biomassa inicial e originou 5,5 t/ha de cinzas com bastante quantidades de Ca, Mg e K. Houve perdas de N, P, K, Ca, Mg e S, tanto pela ação do fogo como pela ação do vento sobre as cinzas e remoção pela cultura. Concluíram que a queimada sem cultivo proporcionou maiores perdas de nutrientes em relação a queimada com arroz cultivado, pela importância da cobertura do solo. Quanto ao efeito residual das cinzas, os valores de P, K, Ca e Mg foram superiores aos da mata (referência).

ARTIGOS PARA LER

Por que legalizar segundo às Leis Ambientais?
Regularização das atividades produtivas
Queimadas controladas

REFERÊNCIAS

EMATER DISTRITO FEDERAL. Gerência de Agroecologia e Meio Ambiente. EMATER-DF. Disponível em:<http://www.emater.df.gov.br/sites/200/229/00003951.pdf> Acesso em: 05 de Set. 2012.
EMBRAPA - Queimadas, suas causas e consequências. Disponível em:<http://www.riosvivos.org.br/Noticia/Queimadas++suas+causas+e+consequencias/11159> Acesso em 04 de Ago. 2012.
INDRIUNAS, L. "HowStuffWorks - Como funcionam as queimadas.  Publicado em 06 de março de 2008  (atualizado em 02 de outubro de 2008)  isponível em:<http://ambiente.hsw.uol.com.br/queimadas1.htm>  Acesso em: 04 de Set. 2012.
OLIVEIRA, I. P.; SANTOS, K. J. G.; ARAUJO, A. A.; OLIVEIRA, L. C. Queimadas e suas consequências na Região Centro-Oeste. Revista Eletrônica Faculdade Montes Belos, Goiás, ISSN 1808-8597, v.1, n.2, p. 88 -103, nov. 2005. Disponível em<http://www.fmb.edu.br/revista/edicoes/vol_1_num_2/queimadas.pdf> Acesso em: 03 de Set. 2012.
SAMPAIO, F. A. R.; FONTES, L. E. F.; JUCKSCH. Balanço de nutrientes e da fitomassa em um Argissolo Amarelo sob floresta tropical amazônica após a queima e cultivo com arroz. Rev. Bras. Ciênc. Solo. V.27. N.6. A.2003.

3 comentários:

  1. Ótima matéria, eu ainda conheço profissionais que são a favor das queimadas, acho isso um absurdo, mas isso esta diminuindo conforme o tempo.

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  2. Eu questiono bastante esses resultados. Em locais onde se queimam leiras de desmatamento o vigor das pastagens é absurdamente maior, o que indica um complemento de potássio significativo nesses locais. Não que isso não interfira na emissão de gases poluentes e nem estou defendendo a queima indiscriminada, mas temos que ser mais realistas com as informações. Uma coisa é a perda no solo onde houve a queimada, outra é a consequente adição de macronutrientes e a correção de PH adicionadas pelas cinzas que nunca é mensurada nesses estudos, mas deveriam.

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    1. Isso ocorre devido a mineralização dos nutrientes existentes na biomassa comburida. Ao queimar a matéria seca, os nutrientes encontram-e em forma mineralizada nas cinzas, podendo é absorvido imediatamente pelas plantas, todavia parte desses nutriente se perdem na forma de gases. Sem considerar-se os dano à microbiota, apenas pela perda dos nutrientes na forma de gás ou até mesmo pelas cinzas retiradas pelo vento, as queimadas já se mostrariam danosas. Sem mencionar a contribuição para o agravamento do efeito estufa...

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