terça-feira, 11 de junho de 2013

Métodos para Calcular Calagem - Vantagens e Desvantagens


A acidez dos solos brasileiros, aliada aos baixos teores de cálcio (Ca²+) e de magnésio (Mg²+) e aos altos teores de alumínio (Al³+), tem causado prejuízo na produtividade das culturas. A disponibilidade dos macronutrientes vai aumentando à medida que se aumenta o pH do solo, considerando-se a faixa ideal de pH entre 6,0 e 6,5. A necessidade de calagem torna-se imperiosa, pois é preciso melhorar as condições de fertilidade do solo para que as plantas possam absorver melhor os nutrientes e provocar aumentos de produção. Em alguns solos se verifica uma grande perda de
nutrientes por lixiviação, ou seja, cálcio, magnésio, potássio e sódio, que são componentes da CTC. Quando lixiviados dão lugar a outros elementos, como o alumínio e manganês tóxicos, que causam prejuízos ao desenvolvimento dos vegetais. 
Os laboratórios de solos utilizam, para determinar a fertilidade, métodos como CTC a pH 7.0, soma de bases, teores de cátions trocáveis, ou seja, Ca²+, Mg²+, K+, Na+, (H + Al). Esses valores são utilizados no cálculo da necessidade de calagem, dependendo do método usado.
Existem vários métodos de calcular a necessidade de calagem: o método de neutralização do alumínio trocável (Al³+), o método neutralização do alumínio trocável mais suprimento de Ca e Mg, o método percentagem de saturação por bases (V%), o método baseado nos fatores solo/planta e o método SMP. O método do alumínio começou com Kamprath em vários estados brasileiros. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina passaram a usar o método SMP. São Paulo e Paraná, o método percentagem de saturação por bases e as regiões semi-áridas, o método Ca+Mg para atingir níveis de 2 a 3 cmolc/dm³ ou 20 a 30 mmolc/dm³. No Paraná, em algumas regiões, usavam também o método alumínio mais suprimento de Ca e Mg. Nos solos de Cerrado são utilizados os métodos saturação por bases e o de alumínio trocável e Ca+Mg. Segundo RAIJ et al., no Estado de São Paulo, antes de 1965, era empregado um critério para recomendação de calagem de acordo com a correlação entre o pH do solo e a percentagem de saturação por bases, visando elevar o pH a valor de 6,5.

Método do alumínio trocável


Este método foi o primeiro a ser utilizado e baseia-se no teor de alumínio, expresso em cmolc/dm³ ou em mmolc/dm³, multiplicado por um fator de acordo com a textura do solo e teor de matéria orgânica.
a) Para solos de textura arenosa e baixo teor de matéria orgânica:
NC (t/ha) = Al³+ (em cmolc/dm³) x 1,5
NC (t/ha) = Al³+ (em mmolc/dm³) x 0,15
b) Para solos de textura média e teor médio de matéria orgânica:
NC (t/ha) = Al³+ (em cmolc/dm³) x 2,0
NC (t/ha) = Al³+ (em mmolc/dm³) x 0,2
c) Para solos argilosos com alto teor de matéria orgânica:
NC (t/ha) = Al³+ (em cmolc/dm³) x 2,4
NC (t/ha) = Al³+ (em mmolc/dm³) x 0,24
Os fatores acima variam de autor para autor. O método do alumínio trocável permite chegar a níveis de pH 5,5. A desvantagem desse método é a sua deficiência em solos com alto teor de matéria orgânica.
Em Minas Gerais, as doses de calcário calculadas pelo método alumínio trocável em 21 solos do Estado não elevaram o pH a valores desejados. O método se mostrou insuficiente para corrigir os excesso de Mn, a falta de Ca e Mg e neutralizou apenas uma parte do alumínio no solo. Porém, em solos onde o cálculo da quantidade de calagem é muito alta, comprometendo os custos de produção, esse método do alumínio trocável permite menores quantidades. É melhor aplicar menos calcário do que deixar de aplicá-lo. Isso dá um tempo para o produtor voltar a usar normalmente a dosagem recomendada pelo método praticado na sua região.

Método saturação por bases (V%)


Este método visa elevar os valores de saturação de bases da CTC a pH 7.0 a níveis desejados de acordo com a cultura explorada. Esse método busca um valor que proporcione o máximo rendimento econômico da utilização do calcário. O método apresenta uma grande vantagem, pois pode ser utilizado para diversas culturas desde que se conheça a percentagem de saturação de bases (V2) que ela exige.
O método é sugerido por RAIJ et al. (1979), pois baseia-se na relação que existe entre o pH do solo e a saturação por bases (V%).  O problema encontrado nesse método é que em solos argilosos e com teor alto de matéria orgânica, as necessidades de calcário são altas. Pode ser um empecilho no custo da lavoura e no bolso do produtor. Mas, pelo que se tem observado, é o método preferido para o cálculo da necessidade de calagem. No link abaixo, o leitor encontrará um artigo nosso sobre cálculo das necessidades de calagem conforme a análise do solo.

Método alumínio trocável mais suprimento de Ca e Mg


Este método tem o objetivo de neutralizar o alumínio e elevar os níveis de cálcio e de magnésio trocáveis no solo, baseado na análise do mesmo.
NC (t/ha) = Al³+ x 2 + [2 - (Ca²+ + Mg²+)] 
A quantidade calculada refere-se à utilização de um calcário com 100% de PRNT e incorporado na camada de 0-20 cm do solo.
O Estado da Paraíba (PB) começou a utilizar este método da elevação de cálcio e magnésio:
NC (t/ha) = [X - (Ca + Mg)] 
onde X = 2 para solos com menos de 2% de matéria orgânica e X = 3 para solos com mais de 2%. 
Nos últimos anos, o Estado da Paraíba optou pela recomendação da necessidade de calagem pelo método da percentagem de saturação por bases, o qual se adaptava melhor à diversas culturas.
Em Minas Gerais, a Comissão de Fertilidade do Solo  recomenda a utilização de uma fórmula baseada no teor de argila do solo (Y), no tipo de cultura (X) e na percentagem de saturação por alumínio (mt) tolerada pela cultura
NC = Y[Al³ - (mt.t/100)] + [X - (Ca²+ + Mg²+)]
O leitor poderá obter mais informações sobre a recomendação em Minas Gerais, inclusive exercício de cálculo, acessando o link do artigo:

Método SMP


Este método, utilizado nos Estados do Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC), consiste na determinação da necessidade de calagem através de uma solução tampão. A solução é colocada em contato com o solo e a leitura de pH da suspensão mostra a necessidade de calagem para os pH's 5,5, 6,0 e 6,5. Foi elaborada uma tabela baseada em calibração com os solos da região e incubados com carbonato de cálcio. O método SMP é originado dos autores Shoemaker, McLean e Pratt (1961), que foi adaptado por Wayne Kussow e descrito por Mielniczuk et al. (1969) . Esse método apresenta a vantagem de ser de fácil execução e muito preciso na determinação da necessidade de calagem. Segundo RAIJ et al. (1979) o método não é tão eficaz quando as necessidades de calagem são menores que 4 t/ha e seu uso não seria apropriado para a maioria dos solos de São Paulo devido ao baixo poder tampão dos mesmos.
Esse método determina o pH na suspensão solo/solução e determina a quantidade de calcário por uma curva de calibração. Quanto maior a acidez potencial do solo, maior será a redução do pH da mistura de solo mais solução SMP e maior a quantidade de calcário recomendada. Na análise é utilizada a mesma amostra quando da determinação do pH em água.

FINAL


SILVA et al. estudaram a comparação dos métodos saturação por bases e alumínio trocável mais Ca e Mg em dois Latossolos (Latossolo Vermelho e Latossolo Vermelho-Amarelo). Esses solos foram incubados com doses crescentes de calcário necessárias para elevar o pH a 5,5 e 6,0. O método incubação é o método usado como padrão, como referência. Seu uso é pouco prático em análises de rotina, pois não considera a planta e nem a expectativa de produtividade. As quantidades de calcário, pelo método incubação, foram correlacionadas com as necessidades calculadas pelos métodos saturação por base e alumínio trocável mais cálcio e magnésio. 
Nos dois solos estudados, SILVA et al. observaram diferenças na recomendação de calagem quando em comparação com o método incubação. Comparando a necessidade de calagem determinada pelo método saturação por bases com o método do alumínio e Ca+Mg, observaram que no Latossolo Vermelho não houve diferenças. Porém, os dois métodos quando comparados com o padrão (método incubação) subestimaram a quantidade de calcário. Entretanto, no Latossolo Vermelho-Amarelo o método do alumínio e Ca+Mg foi um pouco superior ao método saturação por bases. Nesse solo, o método de neutralização do alumínio mais suprimento de cálcio e magnésio se aproximou mais da quantidade de calcário recomendada pelo método padrão.

É comum encontrar, no cálculo da necessidade de calagem pelos vários métodos, resultados diferentes de quantidade a ser utilizada. A escolha dependerá do grau de tecnologia usada pelo produtor. Aqueles que empregam alta tecnologia nas suas lavouras deverão empregar a quantidade maior calculada de calcário. Essa maior quantidade vai neutralizar a acidez provocada pelas argilas, matéria orgânica do solo e alumínio trocável.
O melhor método vai depender daquele que mostrou melhor resultado nos diversos tipos de solo encontrados por Estado ou Região. O leitor deve consultar os manuais de recomendação de calagem e adubação para cada Estado, pois são resultados de trabalhos de pesquisa e de acordo com os métodos de calibração utilizados para a correlação.

REFERÊNCIAS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC. Manual de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10ª ed. Porto Alegre, 2004. 400p.

LACERDA, R. D. de; MENDES, J. da. S.; CHAVES, L. H. G. Manejo de solos ácidos: comparação de métodos para avaliar a necessidade de calcário dos solos do Estado da ParaíbaRevista Biológica e Ciências da Terra, V6, Nº 1. 1º Semestre 2006. Disponível em: <http://eduep.uepb.edu.br/rbct/sumarios/pdf/solosacidos.pdf> Acesso em: 09 Jun. 2013.

RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; ZULLO, M. A. T. O método tampão SMP para determinação da necessidade de calagem de solos do Estado de São Paulo. Seção Fertilidade do Solo, IAC. Campinas, São Paulo. BRAGANTIA, V38, Nº 7, p.57-69. abr. 1979. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/brag/v38n1/07.pdf> Acesso em: 09 Jun. 2013.

SILVA, D. C.; SILVA, F. S.; RAMOS, M. V. V. Comparação de métodos para determinar a necessidade de calagem em solos do município de Ipameri-GO.  Disponível em:<http://www.prp.ueg.br/06v1/conteudo/pesquisa/inic-cien/eventos/sic2005/arquivos/agrarias/comparacao_metodos.pdf> Acesso em: 07 de Jun. 2013.


11 comentários:

  1. Prezado Gastão bela matéria, gostaria de saber qual o local e profundidades corretos de coleta de solo visando análise química na cultura do café; o resultado da calagem deverá ser multiplicado por 0,5 levando em consideração a não incorporação do calcário em culturas perenes? havendo necessidade de calagem a mesma deverá ser realizada na área toda ou apenas na projeção da copa? e quanto ao uso da cal virgem dolomítica visando fornecimento de magnésio é viável? em sendo viável qual a quantidade a ser usada da mesma? área toda ou só projeção da copa? obrigado Marcos.

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    1. O calcário dolomítico deve ser usado quando a análise do solo apontar teores baixos de magnésio. O calcário calcítico só tem Ca. Quando a relação Ca/Mg é muito baixa, usa-se o dolomítico para aumentá-la. Quanto as demais perguntas, leia os artigos abaixo, todos relacionados ao cafeeiro. Clique nos links pata acessá-las:
      http://agronomiacomgismonti.blogspot.com.br/2012/03/interpretacao-analise-do-solo-calagem.html

      http://agronomiacomgismonti.blogspot.com.br/2012/03/manejo-da-calagem-e-gessagem-no.html

      http://agronomiacomgismonti.blogspot.com.br/2012/03/manejo-da-calagem-e-gessagem-no.html

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  2. professor Gastão qual seria a formula pra mim usar os dois tipos de calcário na mesma área ( dolomitico e calcitico ) equilibrando o calcio e o magnésio ?

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    1. Leia
      http://agronomiacomgismonti.blogspot.com/2010/03/como-aumentar-ou-manter-pela-calagem.html

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    2. Para cálculo da necessidade de calagem, visando o equilíbrio entre os cations básicos trocáveis com associação dos calcários (Dolomítico e Calcítico), se for calcular manualmente uma das maneiras é usar a ferramenta da matemática através de sistema de equação. Mas existem Software que realiza esse tipo de cálculo.

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  3. Gastão, qual método eu deveria usar para corrigir o solo (de ph 5 para 6) conforme esta analise, pois a saturação por bases já é alta (74%) e Al3 é 0. (Municipio de Campina Verde -MG, Latossolo Vermelho, area de pastagem intesiva para Leite)

    Resultados da Analise: P(resina) 10mg/dm3, M.O 17 g/dm3, pH CaCl2 5,1 ; pH SMP 6,77; K 2,2 mmolc/dm3; Ca 40 mmolc/dm3; Mg 12 mmolc/dm3; H + Al 19 mmolc/dm3; Al3(kcl) 0; H 19mmolc/dm3; C.T.C 73,2mmolc/dm3; S.B 54,2mmolc/dm3; V% 74; S 6mg/dm3; K na CTC 3%; Ca na CTC 54,6%; Mg na CTC 16,4%; Al na CTC 0%; H na CTC 26%; m% 0; Ca/K 18,2; Ca/Mg 3,3; Mg/K 5,5

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  4. Acredito que a percentagem de saturação por bases já é ideal para a cultura que você pretende. Faça uma boa adubação, aplicando as quantidades de nutrientes recomendados.

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  5. Profº Gastão porque no método do alumínio trocável, apresenta como desvantagem a deficiência em solos com alto teor de matéria orgânica?

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    1. A matéria orgânica é rica em H+ o que torna difícil a medição pelos métodos utilizados. Há trabalhos que indicam que em solos com alto teor de MO, ricos em H+ o extrator ideal seria pH em KCl.

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  6. Existe algum cálculo para se ter o valor do índice SMP principalmente nos laboratórios do MS que não expressa em sua análise de solo?

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    1. O método SMP é determinado em função do poder tampão do solo. Par a sua interpretação é necessário pesquisas a campo para estabelecer uma correlação, pois cada solo tem suas características próprias. O RS e SC usam este método na análise das amostras de solos e os resultados não servem para serem utilizados em outros Estados. Não existe um cálculo, é preciso analisar a amostra no laboratório.

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