terça-feira, 25 de maio de 2010

Solubilidade X Assimilabilidade das Fontes de Fósforo

Antigamente, uma corrente de agrônomos considerava que apenas o fósforo proveniente dos fosfatos solúveis em água seria aproveitado pela planta durante o seu desenvolvimento. O que não era solúvel em água não seria absorvido pela planta, e, consequentemente, não tinha nenhuma eficiência agronômica. Eles consideravam o solo como um mero suporte do vegetal para ele não cair. E parece que ainda existem os que defendem esta teoria. O solo não teria vida. Mas o que se sabe é que o solo é um meio dinâmico formado de estruturas coloidais, com a presença de ácidos fracos, de microorganismos, de CO2, de secreções ácidas liberadas pelas raízes, e que teriam a propriedade de solubilizar as fontes de fósforo liberando-o para as plantas. 
Para uma melhor compreensão, abaixo temos uma ilustração do ciclo dos fosfatos solúveis em água.
É claro que neste processo de disponibilização de fósforo, aquela parte que não fosse aproveitada de imediato pela planta estaria sujeita ao ataque da acidez do solo originando o processo conhecido como "Fixação do Fósforo". Seria necessária a prática da calagem para liberar o fósforo fixado. Em solos alcalinos, teríamos o processo conhecido como "Retrogradação do Fósforo" em que o elemento voltaria a sua forma tricálcica, ou seja, as rochas fosfatadas apresentam o fósforo na forma tricálcica havendo necessidade de quebrar a estrutura cristalina dura para liberar o fósforo tornando-o disponível para as plantas. As indústrias de fertilizantes utilizam ácidos fortes, como os ácidos fosfórico e sulfúrico, para atacarem estas rochas a fim de transformarem o fósforo em solúvel em água, disponível para as plantas.
Esta ilustração nos mostra que:
1) O fosfato solúvel em água em contato com a solução do solo solubiliza-se, tornando-se imediata e totalmente disponível. Parte deste fósforo fica diluída na solução do solo e parte fica adsorvido ao complexo coloidal (argilas), por troca iônicas com OH‾;
2)
Nossos solos, sendo em geral ácidos, apresentam elevados teores de ferro e alumínio, e outras bases e, portanto, grande parte do fósforo disponível é fixada, formando compostos insolúveis de ferro e alumínio;
3) Parte do fósforo disponível é absorvida pelos vegetais e pelos microorganismos do solo para obterem a energia para viverem. Temos, então, o fósforo imobilizado;
4) O fósforo fixado poderá voltar a ser disponível pela ação dos ácidos orgânicos provenientes da mineralização da matéria orgânica e pela acidez livre do solo (H+), pelas secreções ácidas das raízes e pelo gás carbônico do ar do solo;
5) Com a morte dos microorganismos do solo e dos restos de culturas, o fósforo imobilizado pode tornar-se, novamente, disponível para a s plantas pelo processo da mineralização da matéria orgânica.

O número de microorganismos no solo é grande. Apenas em um gramo de solo encontram-se de milhares a milhões de fungos, bactérias, algas e protozoários, etc...
Na ação de desdobramento da matéria orgânica do solo, pelos microorganismos, resultam ácidos fracos ( acético, cítrico, fórmico e outros) os quais podem solubilizar as formas de fósforo fixado. Parte do fósforo é aproveitada pelos microorganismos e parte fica disponível na solução do solo para ser absorvida pelas plantas ou ser novamente fixada.
Existem fosfatos que são insolúveis em água, mas que podem ser utilizados diretamente para aplicação no solo. São os fosfatos naturais que não sofrem nenhum tratamento químico ou térmico. Mas atenção: nem todo fosfato natural serve para aplicação direta no solo. Duas condições básicas devem ser satisfeitas para permitir o uso destes fosfatos como fonte de fósforo para as plantas:
A)utilização de fosfatos brandos de origem orgânica e sedimentar (amorfos) – isto é de grande reatividade agronômica. Não ocorrendo isto, a ação do fosfato natural será tão lenta e, praticamente, nula.
B) micropulverização destes fosfatos de forma a aumentar a área de superfície das partículas aumentando assim, ao máximo, o contato entre os ácidos do solo e o fosfato. Os fosfatos são moídos a um alto grau de finura expondo, desta maneira, uma maior área de contato com os ácidos fracos do solo, com o CO2, com as secreções ácidas liberadas pelas raízes.

A solubilidade do fósforo contido nos diversos fosfatos é avaliada por diversos extratores químicos tais como: ácido cítrico, citrato neutro de amônio + água (CNA+água), ácido fórmico. Estes processos apenas estimam a solubilidade do fósforo contido nos diversos fertilizantes, do ponto de vista comercial, pois no solo ocorrem processos de solubilização ainda desconhecidos. Segundo Macedo, em sua tese, não há relação entre a solubilidade avaliada por extratores químicos e a eficiência agronômica.

Os fosfatos naturais, apesar de serem insolúveis em água, sofrem no solo uma solubilização semelhante àquela que a indústria utiliza para transformá-los em fosfatos acidulados, solúveis em água. Os fosfatos naturais, no solo, reagem com os ácidos fracos do solo ou são solubilizados por substâncias ácidas secretadas na zona das raízes.
Além disto, o solo é um meio dinâmico que não serve apenas para segurar as plantas, mas é um meio vivo com propriedades bioquímicas aliadas às da planta.
Nos fertilizantes, o fósforo está expresso na forma de P2O5. Para expressar as garantias mínimas de P2O5, a Legislação Brasileira de Fertilizantes utiliza, no caso dos fosfatos naturais, o extrator ácido cítrico a 2%, na relação 1:100: ou seja, 1 gramo de produto para 100 ml de ácido.
O mercado comum europeu utiliza, como extrator de fosfatos naturais, o ácido fórmico há muitos anos, pois dizem que é o único extrator fidedigno para diferenciar os fosfatos naturais reativos dos fosfatos naturais de baixa reatividade, desde que 55% do seu fósforo total seja solúvel no ácido fórmico 2% 1:100. E estão corretos, pois pesquisas realizadas no Brasil confirmam este fato, como vejamos:
Dos fosfatos naturais acima, o único que poderia ser comercializado no Mercado Comum Europeu seria o fosfato natural de Gafsa – reativo. Os fosfatos naturais brasileiros são de baixa reatividade e não servem para aplicação direta na agricultura, mas podem ser utilizados pelas indústrias onde sofrerão tratamentos químicos ou térmicos que os tornarão solúveis em água. Hoje, no Brasil, estão sendo comercializados diversos fosfatos naturais reativos. O importante seria conhecer o seu teor em ácido fórmico a 2%, relação 1:100 para ver se enquadra no que diz a legislação do mercado comum europeu no que tange a diferenciação do que é mesmo fosfato natural reativo.

OUTROS ASSUNTOS
Tipos e Obtenção dos Fertilizantes Fosfatados
As Reações dos fertilizantes Fosfatados e o Solo
Lama de Cal e Cinzas como Sucedâneos do Calcário
Coexistência de Milhos Convencional e Transgênico
Absorção dos Nutrientes da Solução do Solo
Aplicação dos Fertilizantes e sua Eficiência

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, manisfeste a sua experiência, a sua dúvida, utilizando a parte de comentários.