quinta-feira, 24 de maio de 2012

Importância da Calagem nas Áreas de Pastagens

No Brasil, os solos se caracterizam por elevada acidez, pobreza de nutrientes, entre eles o fósforo (P), e baixos teores de matéria orgânica. Os produtos animais exportam nutrientes como o fósforo (P), o Nitrogênio (N), o potássio (K) e o enxofre (S). Destes, o fósforo é o mais exportado, chegando a 38%, seguido do enxofre, 16%. A ordem de maior quantidade de exportação é a seguinte: P>S>N>K. Em solos com pobreza de fósforo, a capacidade de produção
das pastagens é baixa e a matéria seca é de baixa qualidade, refletindo no desempenho dos animais. Apesar que encontramos condições de chuvas regulares, temperatura média ao redor de 25 ºC e alta luminosidade.
Porém, o agricultor acredita que pastagem não precisa adubar e nem corrigir a acidez do solo. Que pastagem dá em qualquer lugar, não importando se o solo é fértil ou não. Tudo isto leva a um cenário de empobrecimento da qualidade do pasto para os animais e, consequentemente, na produção de carne e leite.
A falta de reposição de nutrientes e cuidados na melhoria da fertilidade do solo levam a uma degradação das pastagens. O que se vê são pastos pobres, com sistema radicular pequeno, superficial, cujas raízes não conseguem absorver os nutrientes contidos nas camadas inferiores ou buscar água, sofrendo com os veranicos. Aqui se instala a baixa produtividade dos pastos.
O animal, por não encontrar pasto de qualidade para sua alimentação, não consegue os nutrientes necessários para sua formação e produção de carne e leite. Os animais não engordam e sofrem o ataque de doenças e pragas. Os animais ao comerem as folhas obtêm os nutrientes que precisam para o seu desempenho.
Pelo contrário, solos corrigidos, adubados propiciam o desenvolvimento de pastagens mais produtivas, suportando maior lotação de animais, gerando aumento nos teores de matéria orgânica e maior capacidade de troca de cátions do solo. Há um aumento na disponibilidade de nitrogênio, enxofre, boro e outros nutrientes. A capacidade de troca de cátions (CTC) são as cargas negativas presentes no solo e geradas pela fração argila e pela matéria orgânica. Quanto maior esta CTC, maior o número de cargas negativas que atrairão maior número de cátions trocáveis, contribuindo para o aumento da soma de bases trocáveis (SB) e maior percentagem de saturação por bases (V%).
Solos com V% menor que 50% são solos de baixa fertilidade. Por outro lado, solos que apresentam V maior que 50% são considerados solos férteis. Quanto maior o V% do solo, maior a capacidade da pastagem produzir alta quantidade de pasto.
Encontra-se, na literatura, que para buscar um aumento considerável na produção de pastagens deve-se buscar uma percentagem de saturação por bases igual a 90%, ou seja, o V2 no cálculo da necessidade de calagem. Alguns autores preferem valor menor, ou seja, 50% como partida para um manejo da fertilidade do solo de pastagens. Com um V2 de 50%, a necessidade de calagem será muito menor do que com 70 a 90%. Acredito que pensem o seguinte: se solos férteis são aqueles que apresentam um V=50%, porque não partir deste número, e no decorrer dos anos ir manejando a fertilidade do solo, com novas coletas de amostras de terra para acompanhar seu desenvolvimento.
O que importa é que áreas de pastagens devem ser tratadas iguais às áreas de lavoura. Nas áreas de lavoura, os agricultores se preocupam com a fertilidade do solo, entre outros fatores de produção. Compram calcário e fertilizantes, alguns seguem a recomendação dos técnicos quanto às quantidades a serem aplicadas, no intuito de aumentar a produtividade das culturas. Obter maior renda.
Por que não fazer o mesmo com as áreas de pastagens? Adotando estes conceitos, o produtor obterá maior renda, pois a produção de carne e leite será aumentada. Na pastagem também se aplicam corretivos e fertilizantes. A correção da acidez do solo, a calagem, propicia uma adição de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) no solo, além de insolubilizar o ferro (Fe), alumínio (Al) e o manganês (Mn), que em altas concentrações são tóxicos para as plantas.
Afora isto, a calagem aumenta a disponibilidade dos nutrientes, pois a pH entre 6,5 e 7,0 esta disponibilidade chega a 100%, no caso de N,P,K,Ca e Mg.

O pH do solo e disponibilidade de nutrientes (clique aqui para ler)

Esta maior disponibilidade se traduz numa maior eficiência dos fertilizantes. Em solos com pH muito ácido, as plantas aproveitam de 15 a 25% do fósforo aplicado com fertilizantes fosfatados. Um solo corrigido proporcionaria melhores condições das plantas absorverem os nutrientes. Num solo ácido, existe concentração de H e Al presentes na solução do solo e na CTC a pH 7,0. Pela calagem, o H e Al são trocados por Ca e Mg, dando origem a uma CTC mais saturada de bases trocáveis.
O melhor método para determinar a necessidade de calagem (NC) é o saturação por bases (V%). A fórmula a ser empregada no cálculo é a seguinte:
NC (t/ha) = [(V2 - V1) x T] / 100
V2 = a percentagem por bases que busca-se atingir, ou seja 50%. Para aqueles que desejam alto potencial de produção e não economizam na aquisição de calcário, pode-se chegar a 90%.
V1 = é a percentagem encontrada no resultado da análise do solo.
T é o teor da CTC a pH 7,0 expressa em cmolc/dm³. Neste caso, os cátions trocáveis devem estar expressos em cmolc/dm³.

Valor da CTC mal aplicado superestima a necessidade de calagem (clique aqui)

Por exemplo: o solo de uma área de pastagens apresenta os seguintes dados em cmolc/dm³:
K = 0,07; Ca = 0,6; Mg = 0,2; (H+Al) = 5,0
Soma de bases (SB) = K+Ca+Mg
SB = 0,07+0,6+0,2
SB = 0,87 cmolc/dm³
T = CTC a pH 7,0 = K+Ca+Mg+(H+Al)
T = 0,07+0,6+0,2+5,0
T = 5,87 cmolc/dm³
V (%) = (SB x 100) T
V (%) = (0,87 x 100) / 5,87
V (%) = 87 / 5,87
V = 14,8%
Aplicando estes dados na fórmula de cálculo da necessidade de calagem teremos:
V2 = 50%
NC (t/ha) = [(50-14,8) x 5,87] / 100
NC (t/ha) = [35,2 x 5,87] / 100
NC (t/ha) = 206,62/100
NC = 2 t/ha (arredondando)
V2 = 90%
NC (t/ha) = [(90-14,8) x 5,87] / 100
NC (t/ha) = [75,2 x 5,87] / 100
NC (t/ha) = 441,42/100
NC = 4,4 t/ha
Atenção: Estas recomendações são para utilização de um calcário com 100% de PRNT. Se o produtor adquirir um calcário com um PRNT, por exemplo, de 80%, ele precisará fazer a correção da quantidade recomendada no cálculo. Para isto, usa-se o fator de correção (f).
f = 100/PRNT 
f = 100/80 
f = 1,25
Então:
2 t/ha x 1,25 = 2,5 t/ha;
4,4 t/ha x 1,25 = 5,5 t/ha.
Se o calcário tiver PRNT = 70%,  f = 100/75, ou seja, f = 1,33.

Aplicação do calcário:
Na implantação da pastagem - divide-se a quantidade recomendada de calcário em duas metades. Aplica-se uma metade a lanço e faz-se a aração. Depois aplica-se a outra metade e, por meio da gradagem, se incorpora na camada de solo de 0-20 cm.
Em pastagens estabelecidas - procede-se o rebaixamento do pasto e aplica-se o calcário a lanço, sem incorporação, como no sistema de plantio direto.

7 comentários:

  1. Em uma pastagem ja formada, é melhor a aplicação de calcario ou gesso?

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    1. Prezado Alexandre
      O gesso agrícola não substitui a calagem. Com a calagem vc adiciona Ca e Mg (calcário dolomítico e magnesiano), além de neutralizar a acidez do solo e melhorar a disponibilidade de nutrientes e neutralização dos elementos tóxicos como Fe, Al e Mn. O uso do gesso agrícola poderá ser feito acompanhando a calagem, pois o gesso, por ser de maior mobilidade que o calcário no solo, carrega o Cálcio para as camadas mais profundas, criando um ambiente favorável para o desenvolvimento do sistema radicular das plantas, em área e profundidade, cujas raízes iriam mais longe em busca de nutrientes e água. O SO4 do gesso neutralizaria os elementos tóxicos das camadas mais profundas formando compostos insolúveis de ferro e alumínio não aproveitáveis pelas plantas. Portanto vc pode usar o gesso na calagem superficial.

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    2. Sobre o citado, é importante salientar que o gesso agrícola não é um "corretivo" do solo, e sim um "condicionador", ou seja, ele não reage com os elementos tóxicos e não altera o pH, portanto, jamais poderá ser usado como substituto de corretivos (Carbonatos, silicatos, etc.), como lembrado pelo Sr. Gastão. As principais funções deste "condicionador" são a redução da saturação por Al+++ e o fornecimento de Ca e S na camada subsuperficial.
      Abraço.

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  2. Muito bom. Já fiz esta constatação de forma empírica a algum tempo no Paraguay. 8 entre 10 áreas de pastagem a mais de 10 anos tem o P e/ou o S abaixo do nível crítico!

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    1. Imagine que os produtos de origem animal exportam mais fósforo e enxofre. Qual o resultado das pastagens e do desempenho de produção dos animais, nestas áreas deficientes em P e S. Áreas de pastagens corrigidas e fertilizadas contribuem para o aumento da produção de carne e leite. Mais renda para o produtor e mais alimento para o brasileiro.

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  3. Em analise de meu solo tives ph a cacl2 = 5,1 e v=80%, ainda assim preciso fazer calagem? porque o ph está acido enquanto a saturação por bases se encontra no ideal?
    obs: al = 0

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    1. A leitura do pH em CaCl2 é mais baixo que o pH em água
      Leia o artigo acessando o link:

      http://agronomiacomgismonti.blogspot.com.br/2012/09/leitura-do-ph-do-solo-em-agua-e-cloreto.html

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