quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Implantação de Canaviais em Pequenas Propriedades Rurais

"A cana-de-açúcar é uma cultura de alto potencial produtivo que responde muito bem à melhoria das propriedades físico-químicas e biológicas do solo. Devido a esse alto potencial produtivo, há grande remoção de nutrientes por ocasião da colheita, e devem ser suplementadas ações para assegurar a restituição deste elemento ao solo, com o objetivo de manter ou elevar a fertilidade do terreno. As tecnologias recomendadas pelos autores aos pequenos produtores rurais para a implantação e condução de canaviais têm resultado em alta produtividade no ciclo de cana-planta e pequenos decréscimos nos cortes subsequentes. Além disso, as técnicas propostas maximizaram o uso dos insumos da terra e de recursos humanos, com consequentes reduções de custos operacionais."(OLIVEIRA, M. W. et al.)

Nas pequenas propriedades rurais a produção de cana-de-açúcar destina-se, também, à alimentação dos animais. A sua utilização advém da sua alta capacidade de produção de forragens por área explorada. Então, são escolhidas as áreas de menor fertilidade e de utilização mais difícil do maquinário agrícola. Neste caso, são exigidas mais horas de trabalho do pessoal e, consequentemente os custos e o desgaste físico dos trabalhadores serão maiores. Por outro lado, se os rendimentos são altos, este custo e desgaste físico torna-se proporcionalmente menor. Nesta publicação vamos abordar uma série de práticas recomendadas por Oliveira et al para implantação de canaviais nas pequenas propriedades rurais, na agricultura familiar.

Oliveira et al. descrevem uma gama de técnicas agrícolas que deverão ser tomadas pelos pequenos produtores na implantação de canaviais destinados à alimentação de bovinos. Práticas como:

  • imperativo conhecer a fertilidade do solo onde vai ser implantado o canavial; 
  • uso de calcário para neutralizar a acidez do solo, e o uso de gesso agrícola; 
  • adubação química para o fornecimento dos nutrientes necessários ao desenvolvimento da cana-de-açúcar e maior produtividade; 
  • uso da adubação verde; 
  • plantio de variedades mais produtivas e adaptadas à região;
  • uso de dejetos de bovinos e camas de aviário na adubação das rebrotas.

1. Escolha correta da variedade de cana-de-açúcar

Existe no mercado vários cultivares que respondem muito bem à fertilidade do solo, com crescimento ereto e mais resistentes ao tombamento. Estas variedades apresentam alta produção de colmos e de sacarose, além de vigor dos brotos, resistência às pragas e doenças, e uma boa digestibilidade da matéria seca. Oliveira et al. recomendam a utilização no plantio de 2 a 3 variedades adaptadas à região. As mudas devem ter de 8 a 10 meses de idade e que sejam provenientes de viveiros que tenham boa sanidade.

2. Implantação do canavial

No centro-sul do Brasil o plantio da cana-de-açúcar é feito em duas épocas:

a) início do período chuvoso (set/out). A cana poderá ser colhida a partir de abril/maio do ano seguinte. É a chamada " cana de ano ". A cana de ano deve ser plantada em solos mais férteis, com uma topografia mais leve e menos sujeitos à erosão.

b) final do período chuvoso (fev/mar). A colheita, neste caso, ocorrerá de 15 a 18 meses após o plantio. É a chamada  " cana de ano e meio ". É recomendado para solos de baixa fertilidade e para solos mais acidentados. Neste tipo de plantio pode-se introduzir a crotalária juncea, antecedendo o plantio da cana.

3. Extração de nutrientes do solo

Como a cana produz grande quantidade de massa, logicamente ela extrai grande quantidade de nutrientes do solo. E para garantir esta alta quantidade de massa, o pequeno produtor deve pensar em proporcionar ao solo, através do aumento da sua fertilidade, as condições ideais para que a planta encontre os nutrientes tão necessários ao seu desenvolvimento e à produção. Em pesquisa de pequenas propriedades da zona da Mata Mineira, Oliveira et al. verificaram que, para uma produção de 120 t/ha de forragem  (equivalente a 100 t de colmos), o acúmulo de nutrientes na parte aérea da planta foi de 150 kg, 40 kg de P, 180 kg de K, 90 kg de Ca, 50 kg de Mg, 40 kg de S, 8 kg de Fe, 3 kg de Mn, 0,6kg de Zn, 0,4 de Cu e o,3 kg de B. 

Vimos, então, o quanto é importante o pequeno produtor fazer a análise do solo na camada arável a fim de conhecer a real fertilidade do solo, a presença de alumínio tóxico (Al), bem como do Fe e do Mn, a capacidade real de fornecimento de nutrientes e a necessidade de realizar a calagem e a gessagem. Deve-se coletar amostras de solo de diversos pontos da lavoura e separar uma amostra média que deverá ser representativa das condições de fertilidade do solo. As amostras devem ser coletadas na camada de 0-20cm e 20-40cm de solo. O resultado da análise da camada 0-20cm servirá para calcular a necessidade de calagem. O resultado camada 20-40cm servirá para o cálculo da gessagem. 

4. Calagem

Na calagem pode ser usado o calcário do tipo dolomítico, ou magnesiano, ou calcítico dependendo da relação Ca/Mg no solo. Como alternativa ao calcário, podem ser utilizadas os silicatos de Ca e Mg. No cálculo da necessidade de calcário uma atenção deve ser dada ao resultado da análise em relação ao (H+Al), pois o extrator utilizado na análise da amostra de solo, o acetato de cálcio, subestima muito a quantidade de (H+Al). Devido a este fato, Oliveira et al. recomendam elevar em 1,5 a 2 a necessidade de calagem obtido pelo método recomendado para a região. Para as pequenas propriedades recomendam elevar a saturação por bases (V%) para 60%. A fórmula de cálculo seria: NC (t/ha) = (60-V1) x T / PRNT. Os valores devem estar expressos em cmolc/dm³ para o uso desta fórmula. V1 é a saturação por bases original do solo, conforme o resultado da análise do solo, e T é a CTC a pH 7,0.

Oliveira et al. recomendam que o tipo de calcário a ser aplicado na calagem, observe os seguintes casos:

a) calcário dolomítico - quando o teor de Mg < 0,40 cmolc/dm³ ou 4 mmolc/dm³ na camada de 0-20cm do solo;

b) qualquer corretivo com menor preço por tonelada de PRNT - quando o teor de Mg > 0,40 cmolc/dm³ ou 4 mmolc/dm³.

5. Gessagem

O uso do gesso agrícola é recomendado com base no resultado da análise do solo coletada na camada de 20-40cm. Ele é recomendado quando os teores de Ca < 0,4 cmolc/dm³ ou 4 mmolc/dm³ e a saturação por alumínio (m%) maior que 20%. A dose de gesso agrícola recomendada é 1/3 da necessidade de calagem. O calcário e o gesso agrícola são misturados e depois aplicados no solo. Leia "Gesso agrícola favorece o desenvolvimento do sistema radicular" acessando aqui.

6. Adubação verde

Uma publicação sobre adubação verde na cana-de-açúcar já foi publicada neste blog e para saber mais sobre este assunto, "Utilização da crotalária  juncea como adubação verde"acesse aqui.    

7. Adubação

a) Nitrogênio (N)

Para o caso da cana plantada é recomendado apenas P e K. Oliveira et al. verificaram, em estudos conduzidos, que não houve resposta da cana ao N, ocasionada pela mineralização da matéria orgânica e pela maior eficiência das raízes na absorção dos nutrientes. Entretanto, as rebrotas têm alta resposta à adubação nitrogenada. Recomendam, também, a utilização dos teores de proteína bruta para o cálculo da necessidade de N, no caso das rebrotas. A proteína bruta tem, em média, 16% de N ou 160 g/kg. 

Nas pesquisas, esses autores verificaram que o teor médio de proteína bruta dos canaviais varia de 2,6 a 3,2%, ou seja 26 a 32 g/kg de matéria seca. Então, 160 x 26 / 1000 = 4,16 g e 160 x 32 / 1000 = 5,12g. Isto significa que a remoção de N pela colheita da parte aérea da cana-de-açúcar varia de 4,16 a 5,12 g/kg de matéria seca (MS). Se a rebrota produzir 120 t/ha de forragem com 30% de MS, a remoção de nitrogênio (N) será de: 120 x 30 / 100 = 36  .'. 36 x 4,16 = 150 kg/ha de N. Ou 36 x 5,12 = 185 kg/ha de N. A reposição será de 150 a 185 kg/ha de N.

b) Fósforo (P)

Antes da adubação das rebrotas, o pequeno produtor de cana deve mandar analisar o solo na camada de 0-20cm do solo. Se o resultado da análise acusar um V% maior que 50% e o P-Mehlich menor que 10 mg/dm³, deve-se proceder a adubação das rebrotas. Neste caso, o cálculo da adubação com P pode ser feita de acordo com a restituição do mesmo. Recomendam os autores citados que, para cada tonelada de matéria natural produzida, deve-se aplicar de 200 a 300g de P. Por exemplo, para uma produção de 120  toneladas de forragem deverá ser aplicado de 24 a 36 kg/ha de P. Ou seja 120 x 200 /1000 = 24 kg/ha e 120 x 30 / 1000 = 36 kg/ha de P. Para converter em P2O5 basta multiplicar P por 2,29. Então, 24 x 2,29 = 55 kg/ha de P2O5 e 36 x 2,29 = 83 kg/ha de P2O5.

b) Potássio (K)

A adubação com potássio deve ser realizada no plantio e a cada corte da cana de acordo com o resultado da análise do solo na camada de 0-20cm do solo. Na adubação das rebrotas podemos utilizar o mesmo raciocínio no caso do P. Para cada tonelada de forragem produzida por hectare, há uma retirada de 1,5 kg de K. Assim, para uma produção de 120 t/ha de forragem teremos 120 x 1,5 = 180 kg/ha de K. Para converter em K2O multiplica-se por 1,2. Então,180 x 1,2 = 216 kg/ha de K2O.

2 comentários:

  1. Muito bom o artigo!! Parabéns!!

    https://www.mastermaverick.com.br/2021/12/agricultura-no-deserto-como-arabia.html

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