quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Utilização da Crotalária Juncea como Adubação Verde em Canaviais

"A adubação verde com crotalária juncea nas áreas de reforma ou implantação de canaviais contribui para o aumento da produtividade de cana-de-açúcar e para o uso mais eficiente dos fatores de produção". (OLIVEIRA, M. W. et al)

 

A adubação verde com crotalária juncea nas áreas de reforma e de implantação de canaviais em pequenas propriedades rurais (agricultura familiar) torna-se uma opção viável para o produtor, pois apresenta uma série de vantagens, como o aumento da produtividade da cana nos dois primeiros cortes. As técnicas recomendadas para os produtores são a melhoria das propriedades físicas e químicas do solo pela calagem, gessagem, adubação química, adubação verde, utilização de composto orgânico, plantio de variedades de cana com maior potencial de produção, controle das ervas daninhas e controle biológico de pragas. Nesta publicação vamos abordar uma série de recomendações feitas por Oliveira et al. para o plantio da crotalária juncea como adubação verde nos canaviais.

Oliveira et al estudaram o potencial produtivo de 6 adubos verdes na localidade de Mercês, no estado de Minas Gerais: crotalária juncea, feijão guandu, feijão de porco, mucuna cinza, mucuna preta e a vegetação espontânea. Os estudos foram levados a campo por dois anos e a crotalária juncea acumulou na parte aérea 15t/ha de matéria seca (MS) que foi superior as demais. Por outro lado, o feijão guandu veio após com 10,5 t/ha de MS. Os demais adubos verdes não alcançaram 8 t/ha, enquanto a vegetação espontânea, formada de braquiária decubens e de capim marmelada (braquiária plantaginea), apresentou uma produção de quase 5 t/ha de MS. Os solos apresentavam uma percentagem de saturação por bases (V) de 60% e teores médios de fósforo (P) e de potássio (K). As semeaduras dos adubos verdes foram realizadas na primeira semana de outubro, após as primeira chuvas. A crotalária juncea apresentou um crescimento rápido, um sistema radicular vigoroso e profundo - que permite com que as raízes busquem nas camadas mais profundas do solo os nutrientes e água - uma maior resistência às pragas e uma fixação simbiótica do nitrogênio (N) do ar em maiores quantidades.

A crotalária juncea pode ser cultivada antecedendo o plantio da cana e a obtenção de mudas. O plantio da cana de ano e meio é recomendado para os solos que apresentam um relevo acidentado e de menor fertilidade. Na época que ocorre uma maior disponibilidade e uma maior luminosidade, há um maior recobrimento do solo pelas folhagens da cana e maior acúmulo de matéria seca (MS). Como a cana-de-açúcar produz grande quantidade de massa, ela extrai igualmente grandes quantidades de nutrientes do solo. Oliveira et al. verificaram que para uma produção de 100 t de colmos industrializáveis, este acúmulo de nutrientes foi o seguinte: 150 kg de N, 40 kg de P, 80 kg de K, 90 kg de Ca, 50 kg de Mg e 40 kg de S. Quanto aos micronutrientes, o acúmulo foi de 8 kg de Fe, 3 kg de Mn, 0,6 kg de Zn, 0,4 kg de Cu e 0,3 kg de B.

O que fazer?

  1. Analisar o solo. O produtor deve partir da coleta de uma amostra média do solo e mandar analisá-la para ter uma ideia real das condições de fertilidade do solo, no intuito de conhecer a disponibilidade de nutrientes, e a presença de Al tóxico que poderá causar sérios prejuízos à produção. De posse do resultado da análise do solo, o produtor deverá procurar uma assistência técnica para elaborar uma recomendação de calagem e adubação.
  2. Onde coletar a amostra de solo. Uma amostra média deverá ser coletada na camada de 0-20cm e outra amostra média na camada de 20-40cm.  O resultado da análise da camada de 0-20cm permitirá calcular a quantidade de calcário para neutralizar a acidez do solo e suprimento de Ca e Mg, bem como a recomendação das quantidades de NPK necessárias para garantir alta produtividade. O resultado da análise da camada 20-40cm servirá para a recomendação de gesso agrícola (gessagem), se necessária.
  3. Calagem. Oliveira et al.(2004) cita que numa avaliação de doses de corretivos da acidez, foram precisos de 1,5 a 2 vezes a quantidade encontrada no cálculo da necessidade de calagem, para elevar o V = 60%. Isto se deve ao fato de que na determinação do H+Al pelo método do acetato de cálcio nas análises de solos, este extrator subestima a capacidade de troca de cátions a pH 7. Por isto, a recomendação de aplicar de 1,5 a 2 vezes a quantidade de calcário encontrada. Quando o teor de Mg no solo for inferior a 0,4 cmolc/dm³ ou 4 mmolc/dm³ na camada de 0-20cm recomendam a utilização do calcário dolomítico. Se o teor de Mg for maior que 0,4 cmolc/dm³ recomendam um calcário que tenha o menor preço por tonelada de PRNT. 
  4. Gessagem. A aplicação de gesso agrícola deve ser feita quando os teores de Ca forem menores que 0,4 cmolc/dm³ ou a saturação de Al (m%) for maior que 20%, na camada de 20-40cm do solo. A dose deve ser feita na base de 1/3 da quantidade indicada de calcário na calagem do solo. Entretanto, ressalta que a aplicação de doses maiores de gesso agrícola favorece uma maior produção, tanto da crotalária juncea como da cana-de-açúcar. Constatou, também, que a crotalária juncea é muito resistente aos baixos teores de Ca e Mg e às altas saturações de alumínio (m%).

Época de semeadura da crotalária juncea.

Oliveira et al. (2019) conduziu uma pesquisa por 2 anos em Mercês/MG no que tange à época de semeadura afim de verificar a melhor época em relação ao florescimento da crotalária juncea.

  • semeadura no início de outubro, nos meados de outubro e no início de novembro - não houve diferenças entre o início do florescimento.
  • semeadura nos meados de novembro, no início de dezembro e nos meados de dezembro - houve encurtamento do período juvenil, fato este que refletiu negativamente no acúmulo de matéria seca e de nitrogênio (N).

Quantidade de sementes

A crotalária juncea deve ser semeada a uma profundidade de 2 a 3cm, o espaçamento entre sulcos de 0,50cm e uma densidade de 55 a 60 sementes/m². Gasta-se 25 kg/ha de sementes. Oliveira et al. recomenda que o produtor deve evitar a semeadura a lanço e a incorporação das sementes no solo através de uma grade niveladora ou arrastando galhos sobre o solo. Esta prática produz o aparecimento de manchas na lavoura, umas com excesso de plântulas e outras sem plântulas. Para uma boa semeadura, as sementes devem ser misturadas com esterco seco de bovinos e peneiradas, ou usar um calcário muito fino (filler).

Inoculação das sementes de crotalária juncea

A inoculação, neste caso, é uma forma de aumentar o aporte de N no sistema solo-planta. Oliveira et al. (2011b) conduziu trabalhos em propriedades situada na Zona da Mata Mineira e em Usinas Açucareiras, e o resultado mostrou que a inoculação da crotalária juncea não aumentou o aporte de N no sistema solo-planta.

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