Os solos da Amazônia são pobres em nutrientes como fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), mas são ricos em óxidos de ferro e de alumínio. Entretanto, nestas condições, as árvores crescem com alto vigor. Como solos ácidos, pobres em nutrientes, podem criar um ambiente favorável ao desenvolvimento das árvores? Ora, na floresta existe madeira morta, folhas caídas no chão, ricas em carbono (C) e nutrientes que, pela sua decomposição pelos microorganismos, os liberam como resíduos. A absorção dos nutrientes pelas raízes é facilitada pela ação dos fungos micorriza. Até 20 cm de profundidade, o solo é composto de folhas, madeira morta e outros materiais orgânicos, constituindo uma fonte rica em nutrientes. Nas florestas, muitas espécies têm raízes que crescem para fora do solo formando um tapete na
superfície. Estas raízes (pequeníssimas) junto com os fungos micorriza, absorvem rapidamente os nutrientes.
Com o desmatamento e a queima da vegetação, houve uma destruição do sistema de florestas, que permitia o crescimento das árvores em solos pobres. A queima das árvores libera nutrientes para o solo e permite o desenvolvimento e produção das culturas, por alguns anos. Sem o fungo micorriza e outros organismos do solo, para liberar os nutrientes contidos nas cinzas, a camada superficial do solo vai empobrecendo e sujeita à erosão pelas chuvas, devido a retirada da cobertura vegetal. Aliás, isto verificou-se, mesmo em áreas cultivadas próximas de florestas, que apresentavam produtividade alta e que foi diminuindo com o passar dos anos, enquanto as árvores da floresta se mantiam vigorosas. Os nutrientes, com a cinza, são depositados no solo e rapidamente absorvidos. No Cerrado, após a queimada, há um aumento na concentração de alguns nutrientes na camada superficial do solo, mas que vai diminuindo gradativamente. A transformação de florestas em áreas de cultivos agrícolas ou em áreas de pastagens, modificam o teor de carbono (C) e nutrientes, e de matéria orgânica. A matéria orgânica é a principal fonte de nitrogênio (N).
O que é reciclagem de nutrientes do solo?
Reciclagem de nutrientes é a contínua transferência de nutrientes do solo para as plantas, e destas para o solo.
Como acontece a reciclagem dos nutrientes no solo?
A reciclagem dos nutrientes no solo se processa da seguinte maneira:
1. As plantas absorvem os nutrientes do solo;
2. As plantas os utilizam no seu processo de crescimento e produção;
3. As partes das plantas, que retornam ao solo, como folhas mortas, ramos, raízes, formam uma biomassa que, pela ação da atividade dos microorganismos que existem neste meio, se decompõem e liberam nutrientes;
4. Estes nutrientes são absorvidos pelas plantas novamente.
Na escolha das espécies arbóreas para uma consorciação com cultivos de caráter econômico, no intuito de promover a reciclagem de nutrientes, deve-se levar em conta a habilidade das plantas em fixar o N2 do ar, apresentarem elevado teor de N nas folhas e uma rápida decomposição do material. Daí, a preferência pelas leguminosas que têm esta aptidão de fixar, através de bactérias fixadoras, o nitrogênio do ar. Na reciclagem de nutrientes, os microorganismos do solo são importantes, pois digerem aquase totalidade dos resíduos lá encontrados. São responsáveis pela transformação do N, pela mineralização da matéria orgânica e do fósforo, pela solubilização das fontes de fósforo, pela oxidação e redução do ferro (Fe).
BERTALOT, M.J.A et al., publicado na revista Scientia Florestalis, nº 65, pg. 219-227, junho.2004, estudaram "o retorno de nutrientes via deposição de serapilheira de quatro leguminosas, na região de Botucatu-SP. Foram usadas duas variedades de leucena, mais a acácia e a bracatinga. As leucenas têm a propriedade de fixar até 580 kg N/ha. A Leucena leucocephala é uma leguminosa perene, arbustiva ou arbórea, possui rápido crescimento, consorcia bem com outros cultivos agrícolas, tem sistema radicular bem desenvolvido, é tolerante à seca e à salinidade, e pouco atacada por pragas e doenças. A Leucena diversifolia é, também, uma leguminosa perene, arbustiva ou arbórea, alcançando até três metros de altura, já no primeiro ano após plantio. Possui crescimento rápido, grande produção de biomassa e tolerante a solos ácidos. A Acacia melanoxylin alcança até trinta e cinco metros de altura, copa ampla e arredondada. A Mimosa scabrella (bracatinga) vai muito bem em consórcio com outras culturas, é usada como quebra-ventos, sombreamento, produção de adubo verde, e produção de carvão. Os pesquisadores concluíram que houve diferenças significativas, entre as espécies, na produção de serapilheira, sendo maior na bracatinga. A produção de serapilheira foi maior na primavera, depois verão, outono e inverno, nesta ordem. O fluxo de nutrientes para o solo, via serapilheira, foi na seguinte ordem: N>Ca>K>Mg>P>S. Por outro lado, a Leucena leucocephala apresentou maior retorno de P e S. Em relação aos nutrientes na serapilheira, o nitrogênio (N) teve correlação positiva com o potássio (K) e com o enxofre (S), ao longo do ano e nas quatro espécies estudadas.
O que é Serapilheira?
Serapilheira é a camada que reveste a superfície do solo e formada pelo depósito e acúmulo de matéria orgânica morta, de origem vegetal (folhas, flores, ramos, cascas, frutos e sementes) e de origem animal, em menor promoção, em diferentes estágios de decomposição.
SILVA, J.A.A; VITTI, G.S; STUCHI, E.S.; SEMIONATO, O.R., estudando o cultivo intercalar de crotalárias, como adubo verde, em pomares de laranja-pêra, observaram, na análise da matéria seca, um considerável aumento na incorporação de nutrientes essenciais às plantas, pelas leguminosas, onde o N é proveniente da fixação simbiótica do N2 do ar. Os nutrientes do solo, pelo processo de reciclagem, são absorvidos pelas leguminosas, nas camadas subsuperficiais, e incorporados na superfície do solo, onde ficam disponíveis às plantas cítricas. A Crotalaria juncea foi a que mais incorporou nutrientes e apresentou a maior produção de biomassa.
Experimentos desenvolvidos no Paraná - PR, mostraram a importância de manter as entrelinhas dos pomares com cobertura vegetal, ou no sistema em faixas, para manter os teores de carbono (C) e melhorar a fertilidade do solo, na região das entrelinhas. Ao longo dos anos, a cobertura vegetal morta, através do corte, aumenta a CTC do solo e fornece nutrientes N, P e S, e aumenta o teor de matéria orgânica. A incorporação de nutrientes no solo promoveria uma reciclagem.
A utilização de culturas na entressafra, com a finalidade de reciclagem de nutrientes, é uma técnica usada para a melhoria da qualidade ambiental e contra à monocultura. Os resíduos das culturas, na superfície do solo, são uma importante fonte de nutrientes. No Cerrado, o milheto tem sido uma boa opção como cobertura do solo, pela sua resistência à falta de água e pela elevada produção de biomassa.
O não revolvimento do solo e a manutenção da palhada na superfície provoca menor rapidez de decomposição e menor liberação de nutrientes. Pelo contrário, o revolvimento do solo com a incorporação da palhada provoca uma rápida decomposição do material, e uma maior liberação de nutrientes. Por outro lado, comparando gramíneas com leguminosas, estas têm demonstrado maiores taxas de liberação de nutrientes, devido à baixa relação C/N do material.
BOER, C.A; et al. estudaram a reciclagem de nutrientes por plantas de cobertura, na entressafra de um solo de Cerrado e concluíram que o milheto e o capim pé-de-galinha acumulam as maiores taxas de nutrientes na biomassa, sendo o K o maior deles. As maiores taxas de liberação de nutrientes foram observadas com o amaranto.
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