terça-feira, 7 de maio de 2013

Recuperação de Pastagens Degradadas - Calagem

Mesmo nas áreas com pastagem degradadas, em que se deseja recuperá-las para aumentar a produtividade, a calagem é um fator importante para atingir esse objetivo. Se o solo é pobre em nutrientes, somente a calagem não é o suficiente. Se o solo apresenta alguma fertilidade, somente a calagem pode favorecer a melhor disponibilidade de nutrientes, pois ela melhora as condições do solo para colocar à disposição, os nutrientes a serem absorvidos pela
planta.
Na publicação "fertilidade-do-solo-e-manejo-do-pasto para recuperação de pastagens degradadas" falamos que, viabilizada a área para recuperação da pastagem degradada, o primeiro passo do produtor seria a análise do solo, no intuito de conhecer a sua fertilidade. O resultado da análise vai nos permitir calcular a necessidade de calagem, ou seja, a quantidade de calcário necessária para neutralizar a acidez do solo, de maneira a disponibilizar os nutrientes para as plantas.

Resultados com a calagem


Oliveira et al. (1999) observaram que a calagem associada com a fertilização proporcionou maiores rendimentos de Marandu, em t/ha de matéria seca. Observou, também, que a percentagem de saturação por bases permaneceu quase inalterada após 28 meses da aplicação do calcário.
Ainda, Oliveira et al. (2004) realizando dois experimentos, durante dois anos, para avaliar o efeito residual do P, na presença e na ausência de calagem, na recuperação de pastagens degradadas de braquiária Marandu, em Neossolo, obtiveram aumento de produção da forragem quando a saturação por bases foi elevada para 70% por meio da calagem. A fertilização foi feita com N, K, S e micronutrientes. Quando realizada a calagem, a forrageira respondeu com aumento de produção.
Experimento conduzido por Cruz et al. (1994) avaliou o efeito da calagem sobre a produção de Braquiária brizantha, cultivar Marandum, de Andropogon gayanus cultivar Planaltina e Panicum maximum cultivar Aruana, em solo LVE, textura média. Esses autores concluíram que a calagem proporcionou o aumento da produção de matéria seca, com melhor resposta do Panicum maximum. Verificaram, também, que na instalação de pastagens é recomendado fazer a calagem quando a saturação por bases (V) for inferior a 50%, de maneira que se atinja um V = 70%. Às vezes, a calagem realizada no primeiro ano não traz grandes benefícios no aumento de produção da forragem, mas a produção acumulada no decorrer dos anos mostra incremento na produção e melhoria da absorção dos nutrientes NPK.
Boris, Buchelt e Lange (2008) estudaram a influência de diversas doses de calcário aplicadas em superfície sobre a produtividade do capim braquiarão, durante o período de chuvas, no norte do Mato Grosso. Concluíram que não houve diferenças significativas nas doses de calcário utilizadas, mas a calagem e o  gesso agrícola com uma fertilização NPK apresentaram aumentos consideráveis de produtividade do capim. Nesse trabalho, a necessidade de calcário foi calculada para atingir um V = 45%. As doses usadas em relação à necessidade foram: 0, 1/4, 1/2, 1, 2 vezes a dose recomendada. Foram aplicados, ainda a dose de 1,6 t/ha de calcário mais 40 kg/ha de N na forma de sulfato de amônio, mais 20 kg/ha P2O5 na forma de superfosfato simples e mais 20 kg/ha K2O na forma de cloreto de potássio. Outra parcela foi com 1,5 kg/ha de gesso mais a mesma adubação anterior.
Na literatura, encontramos referências que calcários com menor PRNT podem contribuir melhor no aumento de produção da forrageira. Isso se deve ao fato de que as recomendações de calagem são para a utilização de um calcário com PRNT de 100%. Ora, quando se utilizam calcários com PRNT mais baixo, devemos fazer a correção da quantidade, e, com isso, empregamos maiores quantidades do produto. Como o PRNT é a fração do Poder de Neutralização (PN) que vai reagir no solo em 3 meses, assim sobra uma parte do calcário aplicado no solo que vai reagir durante os próximos anos, o que se traduz por um efeito residual maior.

Cálculo da necessidade de calagem


O método saturação por bases (V%) é utilizado para elevar a saturação conforme a necessidade da planta. A fórmula utilizada é a seguinte:
1) No caso dos valores da Capacidade Total de Cátions a pH 7.0 (T) serem expressos em cmolc/dm³


V1 é a saturação por bases da análise do solo;
V2 é a saturação que se pretende elevar;
V = 100 x SB  /  T
SB = soma de bases (K+Ca+Mg+Na) expresso em cmolc/dm³
f = correção da quantidade de calcário quando o PRNT for menor que 100. f = 100/PRNT

2) No caso dos valores da Capacidade Total de Cátions a pH 7.0 (T) serem expressos em mmolc/dm³


LEIA:  Cálculo da calagem pelo método saturação por bases
            Cálculo da calagem para solos arenosos
            Valor da CTC mal aplicado superestima necessidade de calagem

Como aplicar o calcário


Quanto ao modo de aplicação de calcário, existem métodos conforme a situação da pastagem. Nas pastagens que permitem a sua recuperação ou manejadas com grande intensidade, aplica-se o calcário na superfície do solo sem utilizar grades, arados, etc, para sua incorporação.
A utilização de calcário na superfície do solo promove uma maior integridade do sistema radicular da forrageira degradada. Porém, a elevação do pH na superfície do solo pode promover perdas de N por volatilização, quando se aplica coberturas nitrogenadas como o caso da ureia.
No caso do produtor optar por reformar o pasto, o calcário deve ser aplicado a lanço e incorporado na camada de solo de 0-20 cm. No caso de incorporação mais profunda, a dosagem de calcário deverá ser maior. Por quê? Porque a necessidade de calagem é calculada para uma camada de solo de 0-20 cm. Se o calcário vai ser incorporado na cama de 0-30 cm, a quantidade deve ser corrigida para 1 vez e meia; se a camada for de 0-40 cm, a quantidade será dobrada.
Quando a opção for uma implantação ou reforma da pastagem, aplica-se tudo de uma única vez, ou seja, uma metade da quantidade antes da aração e a outra metade antes da gradagem. 
Alguns resultados de pesquisa não encontraram diferenças na produção de forragem, quando foi comparada a aplicação do calcário por incorporação ou em superfície.
O maior problema que se apresentou foi com relação à gradagem. Houve casos em que a forrageira custou a se recuperar após a gradagem, talvez por morte das raízes da planta. O emprego de gradagem na recuperação de pastagens ocasiona decréscimo na produção de raízes, mesmo em solos que receberam fertilizantes.
Alguns aconselham o emprego de grade para revolver o solo, ativando os microorganismos e a mineralização da matéria orgânica para disponibilizar o nitrogênio. Entretanto, os teores médios de matéria orgânica são baixos e, consequentemente, a baixa disponibilidade de N. Sem nutriente, a pastagem volta a degradar.
Na aplicação do calcário, o solo deve estar úmido para facilitar que o produto reaja com os ácidos do solo. O período das chuvas é a fase ideal para a calagem. O calcário deve ser aplicado com antecedência e antes da adubação, pois o calcário precisa de um tempo para reagir. A calagem aumenta a eficiência dos fertilizantes fosfatados solúveis, pois há uma redução da acidez do solo e uma diminuição do alumínio (Al) tóxico.
Sobre adubação na recuperação de pastagens degradadas abordaremos em próxima publicação no dia 9 de maio.

REFERÊNCIAS

BORIS, C. D.; BUCHELT, A. C.; SANTANA, M. S.; LANGE, A. Recuperação de Braquiária brizantha CV. Marandu por meio da aplicação de calcário na superfície do solo na Região Norte do Mato Grosso. In: IX Simpósio Nacional Cerrados, 12 a 17 de outubro, 2008. Brasília, DF.

GUEDES, E. M. S.; FERNANDES, A. R.; LIMA, E. V. do; GAMA, M. A. P.; SILVA, A. L. P. da. Fosfato natural de Arad e calagem e o crescimento de Brachiaria brizanta em Latossolo Amarelo sob pastagem degradada na Amazônia. Rev. Ciênc. Agrár., Belém, n. 52, p. 117-129, jul./dez. 2009

OLIVEIRA, P. P. A.; BOARETTO, Q. E.; TRIVELIN, P. C. O.; OLIVEIRA, W. S. de; CORSI, M. Calagem e adubação na recuperação de pastagem degradada de Brachiaria decumbens em neossolo quartzarênico. Scientia Agrícola, V. 60, nº 1, p. 125-131. Fev. 2003. Disponível em: http://www.scientificcircle.com/pt/3867/calagem-adubacao-recuperacao-pastagem-degradada-brachiaria/> Acesso em: 04 Mai. 2013


3 comentários:

  1. Tenho área de 20 hectares de pastagens amostradas que revelaram teores de 5 P; 5,5 ph; SB 45,5; ctc 61,5; V 74.
    Como se trata de pastagem de Braquiária consolidada, com curva de nível e sem erosão, gostaria de saber se é viável lançar o P e depois lançar calcário e/ou gesso e não gradear. Ou se você conhece outra opção que me permita melhorar o nível de P na pastagem sem revirar o solo.
    Muito obrigado pela ajuda.

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    1. A correção do solo deve ser feita, no mínimo, 30 dias antes da aplicação do fósforo. Os fosfatos naturais reativos (FNR) são indicados para uso em pastagens. A liberação de fósforo é gradativa. Mas tem que ser o fosfato natural com alta reatividade. Os nossos fosfatos naturais não são reativos. Mas você encontra outros importados que são considerados e registrados no MAPA como fosfato reativo.

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