Usando os Conceitos Básicos para Interpretar uma Análise do Solo

 No resultado de uma análise do solo nos deparamos com diferentes conceitos que vão nos permitir interpretá-la. Com isto, teremos uma ideia da fertilidade do solo, sua textura, teor de matéria orgânica, condições da acidez e os nutrientes necessários às plantas e seu teor no solo. De posse destes dados podemos recomendar a correção da acidez com o emprego do calcário agrícola bem como a quantidade de fertilizantes que serão necessários para suprir as necessidades das plantas. Conceitos como textura, teor de matéria orgânica, soma de bases (SB), Capacidade de Troca de Cátions (CTC's efetiva e a pH 7.0), percentagem de saturação por

bases, percentagem de saturação por alumínio, percentagem por saturação por ácidos, pH em água ou em cloreto de cálcio, teor dos macronutrientes primário e secundário e teor dos micronutrientes. Tudo isto vai nos dar uma ideia das condições de fertilidade do solo examinado. De posse dos dados calculados, o assistente técnico terá condições de fazer um plano de calagem, fosfatagem, adubação de plantio e de cobertura.

Mas o melhor de tudo é mostrarmos, através de um exemplo, como são feitos estes cálculos. Seja uma análise hipotética:

1) CÁLCULO DA SOMA DE BASES (SB).

Consideram-se bases os cátions trocáveis Ca², Mg², K e Na. Muitos não consideram no cálculo o íon Na devido a sua pequena quantidade, em geral, nos solos.

SB  = Ca² + Mg² + K + (Na) expressa em cmolc ou mmolc/dm³

Todos os cátions devem estar expressos em cmolc/dm³ ou mmolc/dm³. Não misturar as unidades expressa, ou seja cátions expressos em cmolc/dm³ com cátions expressos em mmolc/dm³s. Se na análise, o K estiver expresso em mg/dm³ devemos fazer a conversão. Como fazer?  

a) Converter o K para a unidade cmolc/dm³

cmolc = massa atômica em g / valência / 100

cmolc K =  39 g / 1 /100  .'.   cmolc K =  0,391 g ou  391 mg

mmolc = massa atômica em g / valência / 1000

mmolc K = 39 / 1 / 1000   .'.  mmolc K = 0,0391 g  ou 39,1 mg

1 cmolc/dm³ de K corresponde .................. 391 mg 

quanto cmolc/dm³ (X) corresponde ...........    1   mg

X = 1 x 1 /391     .'.  X = 1/391 = 0,002557  Este índice 0,002557 será usado para converter mg/dm³ K → cmolc/dm³ K

b) Converter o  K para a unidade mmolc/dm³

mg/dm³ K x 0,02557 → mmolc/dm³ K    '.'   1 mmolc/dm³ K = 39,1 mg logo 1/39,1 = 0,02557

Na análise de solo acima, a SB será:

SB  =  12 + 6 + 0,6 + 1,2 

SB =  19,8 mmolc/dm³

2) CÁLCULO DA CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS EFETIVA (t)

CTC efetiva (t) = SB + Al³  expressa em cmolc/dm³ ou mmolc/dm³

CTC efetiva (t) = 19,8 + 5

CTC efetiva (t) = 24,8 mmolc/dm³

3) CÁLCULO DA CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS a pH 7,0 (T)

T = Ca² + Mg² + K + Na + (H + Al³) expresso em cmolc/dm³  ou mmolc/dm³

Ou,  T = SB + (H + Al³)

T = 19,8 +29,0

T = 48,8  mmolc/dm³.

4) PERCENTAGEM DE SATURAÇÃO POR BASES (V%)

V (%) = (SB x 100) / T

V (%) = (19,8 x 100) / 48,8 

V = 40 %

5) PERCENTAGEM DE SATURAÇÃO POR ÁCIDOS (M%)

M (%) = 100 - V

M = 100 - 40 

M = 60 %

6) PERCENTAGEM DE SATURAÇÃO POR ALUMÍNIO (m%)

m (%) = (100 x Al³) / t 

m (%) = (100 x 5,0) / 24,8 

m = 20%

ATENÇÃO: 

a) Cuide para usar corretamente os valores em cmolc/dm³ ou mmolc/dm³. Não misture-os para não chegar a valores incorretos;

b) No cálculo da necessidade de calagem pelo método de saturação por bases (V%), usar a fórmula correta de cálculo baseado na unidade expressa dos nutrientes, para evitar erros na recomendação do corretivo da acidez. Para ver estas fórmulas clique aqui. 

INTERPRETANDO OS RESULTADOS OBTIDOS ACIMA:

1) o solo se caracteriza por uma pobreza muito grande de nutrientes;

2) o solo apresenta um pH excessivamente ácido. Isto é uma limitante para o desenvolvimento das culturas sensíveis à acidez, e à disponibilidade de nutrientes que, por sua vez, já é bastante baixa: a produção da lavoura será limitada por estes fatores. Então, há necessidade imperiosa de proceder-se à correção da acidez e à elevação dos níveis de fertilidade do solo;

3) a CTC efetiva é muito baixa. Os solos, nas condições de muita acidez, apresentam baixa capacidade de reter cátions: as perdas de nutrientes, por lixiviação, são muito grandes. 

4) chegamos ao resultado que 60% dos pontos de troca estão ocupados pelo alumínio (Al), ou uma percentagem de quanto da CTC efetiva está ocupada pelo alumínio trocável ou acidez trocável; isto provoca sérias limitações no desenvolvimento das lavouras e, consequentemente, à produção das mesmas. Quanto mais ácido é um solo, maior o teor de Al trocável, menor os teores de cátions trocáveis, menor a soma de bases, e uma maior saturação de alumínio;

5) a CTC a pH 7,0 no valor de 48,8 mmolc/dm³ confirma a baixa reatividade das argilas deste solo.

6) o solo apresenta uma percentagem de saturação por bases (V%) baixa, 40 %. O valor V dá uma ideia de quanto por cento dos pontos de troca de cátions estão ocupados por bases: em outras palavras, quanto por cento das cargas negativas estão ocupadas por Ca², Mg², K, Na, e passíveis de troca a pH 7,0 em comparação com aqueles pontos ocupados por H + Al³. Este solo analisado é considerado de fertilidade baixa. Uma necessidade de calagem será precisa para elevar a saturação de bases. Solos que apresentam valores de V menor que 50% são considerados de baixa fertilidade, enquanto os com V maior que 50% são considerados solos férteis. A saturação de bases (V%) é muito utilizada, em alguns Estados brasileiros, para calcular a necessidade de calagem. Outros, adotam o método de saturação por Al³ mais suprimento de Ca² + Mg². Para saber mais acesse aqui