segunda-feira, 28 de junho de 2021

Restituição do Equilíbrio de Bases - Segundo Albrecht

As plantas respondem em produção quando encontram um solo fértil, com os nutrientes prontamente disponíveis para absorção. Wiliam Albrecht estudou a "Restituição do Equilíbrio de Bases" do solo em relação a CTC a pH 7. Muitos produtores fazem a calagem de maneira inapropriada: quantidade defasada, ou excesso de calagem, ou porque viram outros produtores adotarem a prática com bons resultados. A própria recomendação de calagem é baseada, em geral, para um V2 = 70%. Alguns técnicos já começam a contestar este método V2, se ele é o mais fiel da realidade do solo. Sabemos que o excesso de nutrientes pode causar prejuízos

à estrutura física do solo, influindo na produção. A própria calagem, pelo uso de calcário dolomítico, pode causar excesso de Mg ocasionando danos de compactação do solo. GARCIA,J.L.M., M.Sc, cita na sua publicação "Equilíbrio de Bases e Fertilidade Agrícola" que poderemos ter uma baixa produção devido à compactação do  solo provocada pelo excesso de magnésio. Cita, ainda, o "Teste da Bota" que significa aquela porção de terra molhada ou úmida que fica aderida ao solado dos calçados quando caminhamos neste terreno, e  isto leva a supor que este solo tem deficiência de cálcio (Ca), excesso de magnésio (Mg) e baixa atividade microbiana. Acesse aqui para ler a publicação dele.

No solo compactado as raízes das plantas não se desenvolvem bem, tanto em área como em profundidade, ocasionando uma má absorção dos nutrientes que se reflete na queda de produtividade. Nossos solos apresentam, em algumas regiões, valores altos de Mg pela aplicação deste calcário dolomítico. A restituição equilibrada de bases proposta por Albrecht visa proporcionar uma saturação ideal de Ca, Mg, e K no solo em relação a CTC a pH 7. Para isto, o solo deve apresentar uma saturação de 50-65% de Ca, 10-20% de Mg e 2-5% de K em função da CTC. Estes nutrientes devem estar expressos em cmolc/dm³. Alguns autores apresentam estes índices com pequenas diferenças.

Para compreender melhor o cálculo deste equilíbrio de bases, vamos executar um exercício. Vamos supor uma análise hipotética de duas amostras de solos onde consideramos somente as bases Ca, Mg e K, e a CTC a pH 7.0 (T) para fins deste exercício. 

1. O índice de saturação no solo (em %) das bases em função da CTC a pH 7 é calculado pela seguinte fórmula: % de Saturação = nutriente em cmolc/dm³ x 100 / CTC a pH 7.0

Amostra 1. Saturação de Ca (%) = 2,40 x 100 / 6,0 = 40 %

                    Saturação de Mg (%) = 0,90 x 100 / 6,0 = 15 %

                    Saturação de  K (%)   = 0,20 x 100 / 6,0 = 3,33 %

Para a amostra 2,  os cálculos seguem o mesmo raciocínio daqueles da amostra 1.

2. Conforme o disposto, as bases Ca, Mg e K para apresentarem um equilíbrio de saturação torna-se necessário que o Ca esteja com um mínimo de 50% e um máximo de 65%, o Mg entre 10 e 20% e o K entre 3 e 5%, em relação a CTC a pH 7. No quadro abaixo, baseado nestas informações, podemos visualizar quais os teores de Ca, Mg e K seriam necessários para atingir os índices ideais de equilíbrio de saturação. Para isto, desmembramos a fórmula de cálculo Saturação ideal (%) = teor do nutriente x 100 / CTC a pH 7.0  ou saturação ideal (%) x T = teor do nutriente x 100  ou teor do nutriente = saturação ideal (%) x T / 100. Teor do nutriente em cmolc/dm³.


Ca (cmolcdm³) = 50 x 6 / 100 = 3,00 cmolc/dm³  (saturação de 50%)

Ca (cmolcdm³) = 65 x 6 / 100 = 3,90 cmolc/dm³ (saturação de 65%)

Mg (cmolcdm³) = 10 x 6 / 100 = 0,60 cmolc/dm³ (saturação de 10%)

Mg (cmolcdm³) = 20 x 6 / 100 = 1,20 cmolc/dm³ (saturação de 20%)

K   (cmolcdm³)  = 3 x 6 / 100   = 0,18 cmolc/dm³ (saturação de 3%)

K   (cmolcdm³) =  5 x 6 / 100   = 0,30 cmolc/dm³ (saturação de 5%)

Para a amostra 2,  os cálculos seguem o mesmo raciocínio daqueles da amostra 1.

3. No quadro anterior temos, então, os teores das bases e da CTC originais no solo (A) e os teores  que seriam necessários para atingir os índices ideais de saturação (B). No quadro abaixo temos a diferença (A-B), ou seja o teor (em cmolc/dm³) de Ca, Mg e K que deverá ser adicionado ao solo para obter os respectivos índices de equilíbrio  em função, da CTC a pH 7. 


4.  a) Na amostra 1 é preciso 0,60 cmolc/dm³ de Ca para se ter 50% de saturação em relação a CTC a pH 7.0. Ora 1 cmolc de Ca é igual a 0,20 g de Ca ou 200 mg/dm³. Para lembrar, 1 cmolc/dm³ = massa atômica em g/valência/100. 1 cmolc/dm³ Ca = 40g/2/100 = 0,20 g ou 200 mg/dm³. Então 0,60 cmolc/dm³ de Ca x 200 mg/dm³ = 120 mg/dm³ Ca. Sabemos que mg/dm³ x 2 = kg/ha. Então 120 mg/dm³ x 2 = 240 kg/ha de Ca. Alerta: é teor de Ca e não quantidade de calcário. Como o calcário tem CaO, é necessário fazer a conversão:
CaO tem............ Ca   usando as respectivas massas atômicas:
40+16 .............. 40 
Para converter CaO em Ca = 40/56 =  0,71428 
Um calcário com 36% de CaO significa que numa tonelada ele tem 360 kg de CaO ou 257 kg de Ca (360 x 0,71428)  Quanto calcário vamos precisar?
1.000 kg de calcário com 36% de CaO tem ........................... 257 kg de Ca
Quanto calcário (X) vamos precisar para ter........................... 240 kg/ha de Ca
X = 240x 1.000 /257= 933,85 kg/ha de calcário com 36% de CaO.
Para amostra 2, o raciocínio é o mesmo.
b)  Na amostra 1 o Mg está acima do mínimo (10%). Neste caso não há necessidade de repô-lo. Na amostra 2 para atingir o máximo de 20% é necessário adicionar ao solo 0,30 cmolc/dm³ de Mg. 1 cmolc/dm³ de Mg  equivale a 24/2/100 = 0,12 g/dm³ de Mg ou 120 mg/dm³ Mg. Logo, 0,30 x 120 = 36 mg/dm³ Mg. Ou 36 x 2 = 72 kg/ha de Mg. Poderá ser usado um calcário dolomítico se a necessidade encontrada no cálculo do Ca fornecer o magnésio sem prejuízo de alterar o teor do Ca. Ou, então, outros produtos que contenham Mg na sua formulação. Se o produto tiver na composição MgO, o índice de conversão do Mg para MgO é 1,667. Então, 72 kg/ha Mg x 1,667 = 120 kg/ha de MgO

5. Quanto ao K, na amostra 1 ele está acima do mínimo. Na amostra 2, para atingir 5% de saturação é necessário adicionar 0,10 cmolc/dm³ de K.  Ora, 1 cmolc/dm³ de K equivale a 391 mg/dm³.  1 cmolc/dm³ de K é igual a 39,1g/1/100 = 0,391 g/dm³ = 391 mg/dm³. Neste caso,  0,10 cmolc/dm³ K x 391 mg/dm³ = 39,1 mg/dm³ K ou 39,1 x 2 = 78,2 kg/ha. O índice de conversão de K > K2O = 1,25, Sendo assim, 78,2 x 1,25 = 98 kg/ha de K2O  (arredondamos). O cloreto de potássio possui 50% de K2O , logo:
1.000 kg de cloreto de potássio (KCl) tem ............... 500 kg K2
Quanto KCl (X) precisamos para ter ........................  98 kg/ha K2
X = 98 x 1.000/ 500 = 196 kg/ha de KCl 

Provavelmente será difícil encontrar, neste caso, um calcário dolomítico que forneça as quantidades exatas de Ca e Mg por tonelada. Poderá haver deficiência ou excesso de um ou outro. Poderemos  utilizar um silicato de magnésio. Pela legislação de fertilizantes (IN 39 de 8/8/2018), as garantias mínimas para o silicato de magnésio são: 21% de Mg e 24% Si. Como é necessário, pela amostra 2 para atingir 20% de saturação, a quantidade de 72 kg/ha de Mg, teremos o seguinte cálculo:
Em 1.000 kg de silicato de Mg temos ..............  210 kg de Mg (21 kg/100 kg ou 210 kg/t)
Quanto (Y) silicato de Mg para ........................  72 kg/ha Mg
X = 72 x 1.000 / 210 = 343 kg/ha de silicato de magnésio
Utilizando o silicato de magnésio, o Ca seria restituído pela utilização de um calcário calcítico. Além disso, as plantas seriam beneficiadas com a aplicação do silício (Si).
Para saber mais sobre os benefícios do silício (Si) para as plantas acesse aqui.

Atenção: mg/dm³ x 2 = kg/ha considerando a camada 0 - 20 cm de solo e a densidade de 1.0.
Treine fazendo os demais cálculo.

17 comentários:

  1. Boa tarde professor, primeiramente muito obrigado por compartilhar mais ensinamento.
    Ressalto um erro de digitação nos cálculos:
    Na parte 4, logo após "Quanto calcário vamos precisar?" (em vermelho)
    Na regra de 3, onde esta 120 kg/ha de Ca, deveria ser 240 kg/ha de Ca, segundo cálculo anterior.

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    1. Obrigado Eduardo. Realmente procede a sua observação. Já atualizamos. Um abraço.

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  2. Não é fácil encontrar esse tipo de conteúdo tão rico sobre esse tema. Gratidão professor por compartilhar seus conhecimentos!

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    1. Obrigado Mickael. Ficamos muito feliz com seu comentário. Desejamos muito sucesso para você. Um abraço.

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  3. Professor, poderia comentar mais sobre esse fenômeno de excesso de Mg causar compactação?

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    1. Interessante este assunto, mas não se encontra muitas referências na literatura.Existe uma publicação do M.Sc José Luiz M. Garcia que aborda este assunto com muita propriedade. Acesse o link abaixo para ler a publicação:

      http://codeagro.agricultura.sp.gov.br/uploads/capacitacao/equilibrio-de-bases-e-fertilidade-agricola.pdf

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  4. Professor, apesar de Albrecht ser lembrado especialmente pela proposição de um "equilíbrio ideal" de bases no solo, outros autores, como JA Quaggio em "Acidez e Calagem em Solos Tropicais", não observou diferença de produtividade em solos com variadas proporções, desde que esses nutrientes estivessem sempre acima dos níveis críticos. O que pensa a respeito?

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    1. Se os nutrientes estão acima dos níveis críticos, presume-se que as saturações deles estão dentro dos parâmetros de equilíbrio ideal. Ao contrário, em solos pobres de nutrientes, observa-se baixas produtividades. Nestes solos baixos a correção do calcário que adiciona Ca e Mg e uma adubação NPK que adiciona K haverá um aumento da saturação destes nutrientes e consequentemente, um aumento da fertilidade do solo traduzindo-se em maior produtividade da lavoura.

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  5. Professor parabéns pelo seu conteúdo, é realmente de uma riqueza espetacular

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  6. Parabéns pelo seu conteúdo, professor. Uma verdadeira aula. Professor, após esses cálculos, o ideal é calcular e repor a quantidade de nutrientes que a cultura exporta?

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    1. obrigado pelo comentário. Sim, segundo as necessidades das plantas.

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  7. Caro professor Gastão. Gostaria de tirar um duvida em relação ao método descrito. Devemos considerar o PRNT para esse método?

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    1. Desculpe a demora na resposta. Sim, na aplicação de calagem evemos considerar sempre o PRNT. As recomendações de calcário leva em conta o uso de um corretivo com PRNT=100%.

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  8. Professor, obrigado por todos os ensinamentos. Uma dúvida: quando eu descubro quantos cmolc de nutrientes eu devo colocar no solo para elevar a saturação do mesmo na CTC, obviamente o resultado da CTC irá mudar, vez que aumentamos os níveis. Se eu refizer a conta =(Nivel de Ca x 100)/ CTC (após elevação dos níveis) de acordo com o que aumentei, os níveis de saturação estarão abaixo. Ou eu não devo fazer esse cálculo?

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    1. Boa noite, Guilherme. Primeiramente, desculpe pela demora, mas meu Estado (RS) está até agora sofrendo com enchentes e tive problemas de WI-FI e outros. Mas quando vc corrige o solo pela calagem ou com potássio, praticamente você vai aumentar os niveis de Ca, Mg e K e consequentemente a CTC a pH 7,0. Se pretende aumentar os níveis de saturação, mas no solo há vários processos químicos, físicos e biológicos. Teoricamente, você fez o cálculo para elevar estes níveis e empregou as quantidades para este fim. Temos que ver que om solo não é inerte, apenas para segurar a planta, ele sofre várias reações químicas, físicas e biológicas. Por exemplo, o potássio pode sofrer perdas por lixiviação, por erosão e outras.

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  9. Alguem tem o calculo em planilha no excel

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