terça-feira, 6 de abril de 2010

Lama de Cal e Cinzas como Sucedâneos do Calcário

Outros corretivos, além do calcário, podem ser usados para corrigir a acidez do solo: cal virgem, cal apagada, calcário calcinado, cinzas, resíduos de indústrias, conchas marinhas moídas, e tantos outros. Entretanto, a eficiência deles depende do poder de neutralização (PN) e da reatividade (RE), que está ligada ao tamanho das partículas, isto é, à granulometria. Todavia, quanto maior o teor de impurezas no produto menor a sua eficiência na correção do solo e menor a sua qualidade.
Os compostos que neutralizam a acidez do solo são os carbonatos de cálcio e de magnésio - CaCO3 e MgCO3 - presentes nos calcários; na cal virgem estão presentes os óxidos de cálcio e de magnésio - CaO e MgO; na cal apagada, os hidróxidos de cálcio e de magnésio - Ca(OH)2 e Mg(OH)2; os calcinados contêm carbonatos e óxidos de cálcio e magnésio; nas conchas marinhas moídas - CaCO3; os resíduos industriais podem conter carbonatos, óxidos e hidróxidos de cálcio e de magnésio, de acordo com as matérias-primas e os processos a que foram submetidas.

LAMA DE CAL
A "lama de cal" é um resíduo do processo de industrialização do papel e celulose. É um produto sólido, de coloração cinza claro, homogênea e sem odor específico. Poderá ser um sucedâneo do calcário na correção da acidez do solo. LOURENÇO, Rivail S. testou a lama de cal comparando com carbonato de cálcio e calcário dolomítico, em solos de baixa fertilidade: saturação por alumínio (m%) de alta a muito alta; solos de elevada acidez; solos com baixo teor de P, médio de K e altos teores de Ca+Mg, e de matéria orgânica. O carbonato de cálcio foi usado como referência. A "lama de cal" apresentou ótimos resultados, que o pesquisador já esperava, devido ao seu PN, aos teores de óxidos, e pela eficiência reativa considerando o seu alto grau de finura.
A substituição do calcário por resíduos alcalinos das indústrias de papel e celulose pode ser limitada pelo sódio (Na) que está presente nestes produtos, com aspectos negativos para o solo: favorece a dispersão da argila; diminui a estabilidade dos agregados; reduz a condutividade hidráulica saturada; forma crostas na superfície dos solos descobertos; elevada relação molar em Ca/Mg, cujo desequilíbrio entre eles pode prejudicar a absorção de um e outro, reduzindo o desenvolvimento das plantas. Além disto, em solos com alta relação Ca:Mg há uma redução da absorção de K pelo antagonismo entre Ca e K. Uma preocupação seria o aporte, pela lama de cal, do sódio (Na) ao solo. Mas isto pode ser descartado, pois segundo BORGES (1985) há indicação que a relação Na/CTC x 100 abaixo de 2,0 não constituiria problema para as plantas muito sensíveis ao sódio. Na sua pesquisa, Lourenço trabalhou com um solo que apresentou uma relação ao redor de 1,0. A lama de cal apresenta um PRNT elevado. Na pesquisa, o PRNT da lama era de 95,6%. Se compararmos com uma recomendação de 1000 kg de calcário com PRNT 100%, precisaríamos 1046 kg de lama de cal.
ALMEIDA et al. (2007), afirmam que os resíduos das indústrias de papel e celulose podem ser usados como corretivos da acidez do solo; servem como fontes de Ca e de alguns micronutrientes para as plantas. Em outras pesquisas, agregando Mg ou não, verificaram aumento na produção de matéria seca das plantas de trigo.
MEDEIROS, J.C et ali. aplicando resíduos (dregs) de indústrias de papel e celulose observaram uma melhoria nos atributos químicos do solo, principalmente na camada superficial, e um aumento da produtividade do trigo. Entretanto, a relação molar Ca e Mg foi aumentada, bem como, os teores de sódio (Na). Porém, a saturação por sódio da CTC ficou abaixo do nível crítico.
CORREA et al.(2007,2008) avaliaram a aplicação superficial de lama de cal (Lcal), lodos de esgoto centrifugado (LC) e de biodigestor (LB), escória de aciária (E) e calcário (C) na cultura da soja, e constataram que a aplicação destes produtos neutraliza a acidez do solo, eleva a saturação por bases e aumenta a disponibilidade de nitrogênio, cálcio e magnésio até a profundidade de 40 cm do solo; não houve disponibilização de metais pesados ao meio ambiente. Concluíram que a aplicação dos produtos resultou em maiores concentrações foliares de nutrientes N,P,K,Ca na planta de soja. Além disto, a produtividade da soja é favorecida pela aplicação destes produtos no sistema de plantio direto. No quadro abaixo, determinaram os teores de PN, RE e PRNT dos produtos.

Pelo quadro acima, podemos verificar que o PRNT da lama de cal atinge quase 100% por causa de seu alto poder de neutralização (PN) e à reatividade (RE) muito próxima de 100%, atribuída a sua alta finura: o produto passa totalmente nas peneiras 10 e 20 mm, e apenas 0,1% fica retido na peneira 50 mm. A eficiência dos produtos, quanto ao Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT), obedece esta ordem: lama de cal(Lcal)>calcário>lodo de esgoto centrifugado (LC). O lodo de esgoto de biodigestores (LB) não tem poder de neutralização, e, portanto, não serve como corretivo da acidez do solo.

CINZAS
Existem indústrias - cerâmicas, celulose e papel - que nos processos de produção obtêm grandes quantidades de resíduos de cinzas que se atulham em aterros constituindo um custo para a empresa e um problema para o meio ambiente. Um destino das cinzas seria a sua aplicação no solo como corretivo e fertilizante. Porque a sua composição química apresenta nutrientes que podem favorecer esta ação fertilizadora e corretiva.
ALMEIDA et al. (1998) usaram cinza vegetal oriunda da casca de castanha de caju como fonte de P, que proporcionou aumentos significativos na produção de sorgo e milho, embora inferior ao superfosfato triplo.
PRADO, R.M. et ali utilizaram cinzas oriundas da indústria de cerâmicas em um viveiro comercial de Goiabeiras, em Taquaritinga, São Paulo. A cinza apresentava PN de 97,7%, RE de 91,9% e PRNT de 89,8% e chegaram à conclusão que tanto em solo ácido com um valor V de 50% como no solo corrigido com calcário (V=80%), houve um desenvolvimento significativo das mudas de goiabeira. As doses usadas de cinza promoveram o mesmo comportamento no desenvolvimento das mudas, seja no solo ácido ou no solo previamente corrigido. Segundo eles, a resposta altamente positiva da cinza, no crescimento da planta, em solo ácido pode ser explicada pelo efeito na neutralização da acidez do solo. Aconselham que as cinzas devem ser aplicadas em solo com saturação por bases (V) menor que 80%, para evitar possível redução da disponibilidade de nutrientes do solo: principalmente os micronutrientes. O maior crescimento das mudas de goiabeira foi quando se empregou 1,0-1,2 g/vaso em solo com V=50%; e 1,2-1,6 g/vaso em solos com V=80%.
GONÇALVES, J.L.M e Moro, L., em trabalho de pesquisa referente à aplicação de cinza em árvores de eucalipto, observaram que as análises, na camada de 0-20 cm do solo, realizadas após seis anos da aplicação da cinza, não mostravam diferenças significativas entre os tratamentos, com exceção do fósforo (P) e do pH. Neste período, devido à permeabilidade e à baixa CTC do solo, grande parte dos nutrientes foi lixiviada, e outra parte considerável foi absorvida pelas árvores de eucalipto. A cinza promoveu uma elevação dos níveis de pH, dos cátions trocáveis Ca,Mg,K, do P extraível, e a redução do Al trocável. Ficou evidente o papel da cinza como agente melhorador dos atributos químicos do solo, e, consequentemente, como fonte de nutrientes para as árvores. A aplicação de cinza influiu, significativamente, na concentração e no conteúdo de macronutrientes. As absorções de Ca e K foram muito maiores que àquelas observadas na testemunha e no tratamento que recebeu fertilizante químico.
DAROLT et al. (1993), verificaram elevação do pH e redução de Al trocável a partir da aplicação de 10 t/ha de cinza vegetal na produção de alface. As cinzas, liberando carbonatos de cálcio e de magnésio, potássio, promovem a elevação do pH neutralizando a acidez do solo.
Tem-se verificado, em trabalhos de pesquisa, que os íons H+Al reduzem seus teores com o aumento das doses de cinzas, bem como, a soma de bases, a capacidade de troca de cátions, a saturação por bases (V%), os cátions trocáveis Ca, Mg, K, que tiveram acréscimo nos teores após a aplicação da cinza: isto se deve ao aumento do pH do solo criando condições favoráveis à disponibilidade de nutrientes no solo.

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Coleta de Amostras de Solos
Aplicação e Incorporação do Calcário

2 comentários:

  1. Caro Colega

    Estou aqui a agradecer-lhe uma informação sobre cinzas,mais concretamente,a presença simultânea de carbonatos e de óxidos,em particular de K e de Ca,quando são estes,claro,os catiões mais abundantes.

    Mais uma vez,o meu obrigado,desejando-lhe muito sucesso com o seu muito valioso blogue.

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  2. Caro Colega

    A leitura do seu texto,de capital import�ncia,
    despertou-me uma lembran�a relacionada com a secagem da amostra. Foi aspecto que me interessou quando convivi com o pot�ssio ,uma vez que na altura se escrevia muito sobre o efeito da secagem ao ar na altera�o do pot�ssio de troca do solo. Dessa lembran�a,deixo-lhe aqui um curto apontamento.
    Da bibliografia,conclu�a-se que a secagem ao ar produzia,umas vezes,liberta�o de pot�ssio n�o permut�vel,enquanto noutras sucedia o inverso,ou seja,a chamada fixa�o. Parecia isto indicar um estado de equil�brio entre o pot�ssio de troca e o n�o de troca. A liberta�o dependia,essencialmente,
    dos minerais portadores de pot�ssio,sendo,por�m,
    dif�cel relacionar a sua intensidade com as
    caracter�sticas mineral�gicas dos solos,dada a
    variabilidade do seu conte�do,do seu teor de pot�ssio,do seu grau de divis�o e meteoriza�o.
    Dos oito solos estudados,verificou-se que s� apenas num n�o ocorria aumento de pot�ssio de troca,sendo apreci�veis os acr�scimos em tr�s,com mais altas percentagens de argila.

    Muito boa sa�de,Caro Colega.

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