segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Requisitos para a Escolha de um Calcário de Qualidade

 

A prática da calagem tornou-se fundamental para aqueles produtores que desejam melhorar a fertilidade do solo e, consequentemente, obterem altas produtividades nas lavouras em exploração. Aqueles que assim o fazem de acordo com os preceitos técnicos indicados pelos órgãos de pesquisas têm, realmente, alcançado sucesso no empreendimento. Para isto levam em conta a análise química e física do solo, mediante uma coleta correta da amostra do solo. Uma amostra média que será o espelho das condições reais do solo. Alguns produtores, entretanto, não fazem corretamente esta prática, pois coletam mal as amostras, às vezes de locais

que não serão aqueles da lavoura a explorar. Ou não coletam amostras de vários locais da lavoura afim de obter uma amostra média que traduza as condições originais do solo. Outros aplicam calcário dias antes da semeadura, ou no próprio dia, quando a recomendação é, no mínimo, 90 dias antes do plantio. O calcário precisa de tempo de 2 a 3 meses para reagir no solo, e aplicação próxima ao plantio prejudicará as culturas de safra curta, pois as plantas não encontrarão melhores condições de fertilidade do solo. Por que devemos aplicar calcário 90 dias antes do plantio? Acesse aqui para saber mais sobre isto.

Outros produtores aplicam calcário ao seu bel prazer, sem uma recomendação técnica, colocando no solo quantidades que poderão ser excessivas, provocando a supercalagem. A supercalagem pode ser mais prejudicial ao solo do que não fazer a calagem, pois pode tornar indisponível uma série de micronutrientes, cuja deficiência no solo será observada com a queda de produtividade das plantas.

Caires et ali. 1993, observaram que a correção da acidez trouxe aumento no pH, no Ca trocável e saturação de bases, redução do Al trocável até a profundidade de 20 cm. Goodroad & Gellum (1988) observaram que com ao aumento do pH do solo houve maior disponibilidade e absorção de N pelas plantas. Lutz Jr. et al. (1972) verificaram, também, que com o aumento do pH houve maior disponibilidade e absorção de nutrientes como o fósforo (P), o potássio (K), o cálcio (Ca) e o magnésio (Mg). 

A tônica principal é fazer a correta amostragem do solo, ter o resultado da análise, seguir a recomendação da quantidade de calcário e adquirir um corretivo de qualidade. Um calcário de qualidade que neutralize a acidez do solo, aumentando o pH e fornecendo Ca e Mg de maneira equilibrada. O aumento do pH no solo melhora o grau de disponibilidade dos principais nutrientes absorvidos pelas plantas para o seu crescimento e produção de grãos e frutos. 

Requisitos para a escolha de um calcário de qualidade.

1. Soma dos teores de CaO + MgO.

No calcário, o Ca e o Mg estão  presentes na forma de carbonatos e não de óxidos. Entretanto, como nos fertilizantes e nas recomendações de adubação em que o fósforo (P) é expresso em mg/dm³ e kg/ha de P2O5 e o potássio (K) em cmolc/dm³ e kg/ha de K2O, os laboratórios e empresas que comercializam o calcário expressam os óxidos em CaO e MgO. É apenas uma forma de expressá-los. A legislação brasileira de corretivos também expressa os teores de carbonatos - CaCO3 e MgCO3 - em CaO e MgO respectivamente. A legislação dispõe que um calcário para ser registrado e estar apto à comercialização deve ter a soma CaO + MgO igual a 38%, no mínimo.

2. Poder de Neutralização (PN). 

O que é PN? É o potencial de bases neutralizantes contidas num corretivo de acidez do solo expresso em equivalente de carbonato de cálcio puro (% e-CaCO3). Ou seja o PN vem a ser o total de carbonatos presentes na rocha calcária. O valor mínimo para a comercialização de um calcário é que ele tenha um PN = 67%. Para calcular o PN deve-se proceder assim:

Seja um calcário com 36% de CaO e 12% de MgO. (Soma 36+12 = 48)

PN do CaO = 36 x 1,79 = 64,44%

PN do MgO = 12 x 2,48 = 29,76%

PN do calcário = PN do CaO + PN do MgO = 64,44 + 29,76 = 94%

Como surgiram estes índices 1,79 e 2,48? Lembre-se do equivalente em CaCO3 puro.

CaCO3............................................ CaO    Usando as respectivas massa atômicas teremos: 

40,078+12,0107+3x15,999.............40,078+15,999 = 56,077

100 .................................................    56

em 100g CaCO3 temos ............... 56g de CaO

quanto CaCO3 (X) teremos .......... 1 g de CaO

X = 100 x 1 / 56 = 1,79 (arredondando)

O equivalente em CaCO3 do MgO será 100 / 40,3044 = 2,48.  Massa Molecular do MgO = 24,305 + 15,999 = 40,3044

3. Reatividade do calcário (RE)

A reatividade (RE) do calcário está ligada à granulometria. Vem a ser a % de partículas que reage no solo no prazo de 12 a 36 meses. Para determinar a reatividade o calcário passa por diversas peneiras: 95% das partículas devem passar na peneira de 2mm (ABNT-10); 70% devem passar na peneira de 0,84mm (ABNT-20) e 50% das partículas devem passar na peneira de 0,30mm (ABNT-50). Na sacaria do produto deve constar o PN e a RE em percentagem. Um calcário que indicar uma RE = 80% quer dizer que somente 80% das partículas reagem no solo num período de 2 a 3 anos. Esta reatividade vai ter influência no cálculo do PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total).

4. Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT)

O PRNT leva em conta os teores (%) de PN e RE. A fórmula para cálculo é a seguinte:

PRNT = PN x RE / 100

Se o calcário traz como garantia um PN de 90% e uma RE de 90%, o PRNT = 90 x 90 / 100 = 81% (* Faixa 3). Este PRNT de 81% indica que 1 tonelada do corretivo terá o mesmo efeito que 810 kg de CaCO3 puro e finamente moído na correção da acidez do solo num período de 2 a 3 anos. O PRNT indica a proporção do total do calcário que efetivamente corrige a acidez do solo em 2 a 3 anos. O restante (PN-PRNT = 90 - 81 = 9%) é o efeito residual. Quanto maior o PRNT menor é a quantidade de calcário que deverá ser usada. Quanto mais baixo, maior a quantidade.  


A legislação brasileira de corretivos estabelece uma classificação dos calcários comercializados no Brasil em 4 faixas a saber:

(*) Faixa 1 = PRNT entre 45-61%; Faixa 2 = PRNT entre 60,1-75%; Faixa 3 = PRNT entre 75,1-90%; Faixa 4 = PRNT > 90,1%. Então, concluímos que o PRNT mínimo para comercialização é de 45%. A recomendação da necessidade de calagem é calculada para o calcário ser incorporado na camada de 0-20 cm do solo e que tenha um PRNT = 100%, ou seja 100% das partículas reagirão no solo no período de 2 a 3 anos.

Caso o produtor adquirir um calcário com PRNT = 80%, ele deve fazer a correção da quantidade por um índice (f = 100/PRNT do calcário). Por exemplo, se a recomendação foi de 4 t/ha e o calcário comprado tem um PRNT de 87%, o fator de correção será 100/87 = 1,15. Então, a nova quantidade será: 4 x 1,15 = 4,6 t/ha. Por outro lado, se o PRNT = 120% o fator de correção será: f = 100/120 = 0,83. A correção da quantidade será: 4 x 0,83 = 3,32 t/ha ou 3.320 kg/ha.

5) Preço da tonelada efetiva

O preço da tonelada efetiva é calculado em relação ao custo do calcário por tonelada e o custo do mesmo para ser entregue ou aplicado na propriedade. É importante que o produtor, quando da compra do calcário, faça este cálculo. Um calcário mais barato pode ser tornar caro, pois devemos levar em conta o PRNT. Calcários com PRNT mais baixo tornam-se mais caros pois exigirão maior quantidade do que um calcário com PRNT mais alto.

preço da tonelada efetiva = custo do calcário posto na propriedade x 100 / PRNT

Para saber mais sobre o cálculo do custo e visualizar as diferenças entre 3 calcários acesse aqui.

O calcário calcinado e a cal virgem são mais caros, mas o custo efetivo da tonelada é mais baixo por terem um PRNT maior que 100%. Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados, pois a cal virgem não deve ser empregada em grandes quantidades num espaço menor que 30 dias antes da semeadura. O seu efeito cáustico provocará danos à germinação.

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