quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Monocultura Contradiz Benefícios do Plantio Direto na Palha

Plantio Direto na Palha, outro desafio para a Pesquisa
Mais uma prática agrícola passa ser objeto de contradição: o plantio direto na palha. Já comentamos em recente artigo que a recomendação de zero de nitrogênio na soja foi colocada em contradição pelos produtores que participaram do concurso nacional de produtividade da leguminosa, que obtiveram maior rendimento quando aplicaram nitrogênio através de fertilizantes nitrogenados. Em virtude disso, a pesquisa está testando a campo áreas com aplicação de fertilizante nitrogenado para confrontar a
recomendação de zero de N até então recomendada.

Agora, a bola da vez é o plantio direto na palha que está sendo confrontado, pois produtores do Estado do Paraná, nos municípios de Palmeiras e Arapoti, que utilizam o plantio direto da palha, estão plantando, há muito anos, soja sobre soja, feijão sobre feijão e trigo sobre trigo, com aumentos consideráveis de rendimento. O Paraná é um Estado que possui grande área de plantio direto na palha, ou seja, 5 milhões de hectares. Lá, é comum o plantio de soja por dois anos e depois o milho e os resultados alcançados são significativos.

Ora, plantar soja sobre soja, trigo sobre trigo durante vários anos é monocultura.
O pesquisador Augusto Goulart (M.Sc. em Fitopatologia/Patologia de sementes) da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS diz que "o sistema de plantio direto cria condições favoráveis para os patógenos que se alimentam de tecidos mortos, chamados necrotróficos - tenham uma sobrevivência maior. Como o plantio direto impõe o uso da rotação de culturas, que garante a viabilidade do sistema, não há ocorrência de doenças quando ela é adotada. Diz ainda, Goulart, que quando se tenta fazer o plantio direto em monocultura, há um aumento da intensidade das doenças causadas pelos necrotróficos. Independente da região onde o SPD é realizado, a rotação de culturas é obrigatória em conjunto com a utilização de sementes tratadas com fungicidas".
Telmo J. C. Amado comenta: "Os serviços ambientais do plantio direto serão potencializados pelo uso da rotação de culturas". 
A Dra Ana Primavesi (1992) comenta: "a base do SPD não é o uso de herbicidas, mas a camada de palha na superfície do solo. Entretanto, o SPD não deve ser usado com monocultura".

Após a colheita da lavoura, uma parte dos patógenos sobrevive nos restos culturais. A rotação de culturas tem a finalidade de minimizar ou eliminar esta infecção. A sequência do mesmo cultivo pode anular o efeito da rotação.
Acredito que essas duas práticas citadas acima não serão as únicas a serem confrontadas. Outras práticas agrícolas, inclusive calagem e adubação, serão objetos de dúvidas e que deverão ser pesquisadas novamente ou alteradas as suas recomendações. Estamos, presentemente, assistindo o lançamento de novas variedades com maior potencial de produção, maior resistência às geadas, à seca, às pragas e doenças. Encontrando solos com boa fertilidade, elas respondem satisfatoriamente. Há produtores que utilizam mais fertilizantes, que seguem as recomendações de calagem e adubação, e neste perfil as variedades altamente produtivas encontram um meio ideal para manifestar todo o seu potencial de produção.
O plantio direto na palha (PDP) alcança uma área de quase 30 milhões de hectares, no Brasil. O PDP é uma forma de minimizar a erosão causada pela água das chuvas e pelos ventos, pois ela provoca grandes perdas de camada arável constituída de matéria orgânica e nutrientes. No PDP não há revolvimento do solo e isso mantém uma cobertura que o protege contra a ação da erosão, diminuindo as perdas de terra. Há um maior armazenamento de nutrientes e fertilizantes aplicados.
Como aceitar que a monocultura desenvolvida numa prática agrícola de tanto sucesso - o plantio direto na palha - possa apresentar altos rendimentos sem rotação de culturas, com incidência de pragas e doenças inerentes de cada cultura que permanecem no solo ao longo desses anos. Sempre se recomendou que o produtor abandonasse a monocultura, pois ela esgota e degrada o solo.

Nos dias atuais, há uma geração de dúvidas de fenômenos, de recomendações técnicas, de conceitos, que nos deixam pensativos e sem norte para seguir. Dizem que o Efeito Estufa é uma farsa, que a emissão de gases de efeito estufa é insignificante, que os conceitos foram emitidos por interesses econômicos. Na agricultura, muitos conceitos começam a ser contraditórios em relação ao que é recomendado. Acredito que no campo agronômico outras contradições aos resultados obtidos no campo irão desafiar a pesquisa. 
Uma revolução nos conceitos agronômicos deve ser proposta pela pesquisa. Mas isso pede tempo, porquê pesquisa necessita alguns anos para emitir uma recomendação técnica. Nós temos recomendações de calagem e adubação de 1999 e 2004, em alguns Estados. De lá para cá, novas variedades potencialmente produtivas foram lançadas. Poderiam essas variedades produzir mais num ambiente de maior fertilização, com maior quantidade de nutrientes colocados à disposição das plantas? Mas, essas recomendações devem ser oficiais e cabe a Pesquisa Brasileira anunciá-las.


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